Premiação é considerada o Oscar da Ciência Brasileira; Farhat defendeu tese sobre “Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade ao longo do desenvolvimento”
O jovem doutor em medicina psiquiátrica e pesquisador Luis Carlos Farhat, de 29 anos, é o vencedor do Prêmio Capes de Tese 2024, na categoria Medicina II. O resultado da 19ª edição da premiação foi divulgado no dia 27 de agosto e confirmado em 13 de setembro. A honraria, que todos os anos reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado em diferentes áreas de atuação, é considerada o Oscar da Ciência Brasileira.
Farhat é membro do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) e, em 2023, defendeu a tese de doutorado vitoriosa com orientação de Guilherme Vanoni Polanczyk, também pesquisador do CISM. O doutorado foi realizado no programa de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Criado em 2005, o Prêmio Capes de Tese teve, em 2024, a edição mais concorrida de todos os tempos, com 1.632 trabalhos inscritos. No total, 49 pessoas foram premiadas em diferentes áreas. Além dos vitoriosos, 97 ainda receberão menção honrosa. Veja a lista.
Feliz pela conquista, o pesquisador ressalta a grandeza do reconhecimento, visto que o processo seletivo é bastante competitivo, considerando programas de pós-graduação de todo o Brasil. “Muito legal ter esse reconhecimento”, celebra Farhat. “Isso reforça que o que o trabalho que a gente está fazendo é legal, interessante para a sociedade e tem um valor além de simplesmente estarmos fazendo e publicando artigo”, acrescenta.
A solenidade de premiação, que conta com entrega de certificado e medalha, será em dezembro. Apesar de celebrar a vitória, o pesquisador afirma que também ficaria feliz se tivesse perdido. “É meio brega, mas acho que é verdade, eu realmente sinto isso”, diz.
No dia, também serão revelados os ganhadores do “Grande Prêmio”, que elegerá três entre os 49 vencedores – um para cada área: Humanidades, Ciências da Vida e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. Farhat pode, ainda, ficar entre esses três selecionados, mas prefere apenas comemorar do que concentrar expectativas nesta vitória.
“Acho que a gente fez um bom trabalho. Fizemos o trabalho que tinha que ser feito, pensando no desenvolvimento da ciência. Acho que é isso. O resto é um pouco de ‘extra’, se vier legal, mas se não vier também acho que é igualmente legal. Esses prêmios acabam sendo uma grande festa para todos, mesmo quem ganha ou não”, declara satisfeito.
Premiações
Farhat e os demais autores das teses selecionadas receberão uma bolsa de até 1 ano para estágio pós-doutoral em instituição nacional. Já os vencedores do Grande Prêmio ganharão o mesmo benefício, porém, em instituição internacional.
Além disso, o Instituto Serrapilheira, parceiro do Prêmio, concederá R$ 20 mil para os vencedores do Grande Prêmio nas áreas de Ciências da Vida e Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. Os orientadores das 49 teses vencedoras receberão premiação em dinheiro.
Às próximas gerações que concorrerão ao processo seletivo, o pesquisador deixa um conselho baseado em sua experiência: “Não pense no prêmio, divirta-se! Faça boa ciência e faça o seu melhor e aí acho que as coisas acabam vindo como resultado”.
Entre as dificuldades enfrentadas na trajetória da pesquisa até a conquista, Farhat destaca a subvalorização da profissão e o desafio de aprender o “raciocinar científico”.
“Falando em ciência, não existem verdades, existem coisas que a gente sabe até que elas sejam provadas falsas. E isso muda um pouco o racional de como você enxerga as coisas, como desenvolve os projetos de pesquisa, perguntas de pesquisa, e tem a diferença também que não existe uma pessoa que te ensina a pesquisar, acho que você aprende sozinho de certa forma”, explica em comparação com o ensino da medicina.
A tese de Farhat
O “Oscar da Ciência Brasileira” elege os melhores trabalhos de doutorado seguindo critérios de originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação e o valor agregado pelo sistema educacional ao candidato.
A avaliação ainda considera a metodologia utilizada, qualidade da redação, organização do texto e qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese.
O prêmio é uma iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que é uma Fundação do Ministério da Educação (MEC) e tem a missão de expandir e consolidar a pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) no Brasil.
Intitulada “Transtorno do déficit de atenção/hiperatividade ao longo do desenvolvimento: epidemiologia, etiologia e terapêutica”, a tese de Farhat se destacou entre os critérios definidos pelo prêmio. O trabalho concentra várias pesquisas focadas em TDAH e psiquiatria da infância e da adolescência, realizadas durante o doutorado. Veja a tese.
No total, o estudo de Farhat rendeu a publicação de seis artigos científicos em periódicos médicos. Um deles, que saiu na Nature Communications, trata da descoberta de que até 1.057 genes podem contribuir para o risco de TDAH – confira nesta matéria.
Farhat detalha que alguns trabalhos que compõem a tese falam sobre a prevalência do transtorno e fatores que podem explicar a associação entre os sintomas na infância e a depressão na vida adulta. Além desses temas, outros pontos da pesquisa abordam principalmente a causa das doenças, investigando a genética dos transtornos psiquiátricos.
“E tem a parte de tratamento, que foi uma coisa que eu comecei a trabalhar quando fui para fora [do país], pela primeira vez na faculdade, fazendo meta-análises de ensaios clínicos randomizados, que são artigos muito interessantes para ajudar as pessoas que tratam pacientes com essas condições hoje em dia”, explica o jovem pesquisador.
A tese foi defendida em novembro do ano passado. Foram 2 anos e seis meses de dedicação, visto que os estudos tiveram início em maio de 2021. O doutorado contou, ainda, com uma versão sanduíche na Universidade Yale, nos Estados Unidos.
O jovem pesquisador afirma que “curte” o que faz e que esse período foi importante para capacitá-lo a continuar trabalhando com pesquisa. “Espero que o trabalho que a gente está fazendo nos ajude a entender um pouco mais porque algumas crianças desenvolvem transtornos mentais, bem como melhores formas de ajudar a elas e suas famílias”.
A carreira de pesquisador
Farhat se uniu à equipe de pesquisadores do CISM no início deste semestre, após conquistar uma bolsa de pós-doutorado do “Programa de Apoio à Fixação de Jovens Doutores no Brasil”, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O jovem pesquisador trilhou uma longa trajetória, desde a graduação, até a chegada ao pós-doutorado. Fascinado pelas descobertas proporcionadas pelo mundo da pesquisa científica, tem, no CISM, a chance de avançar em ciência de impacto social.
Farhat coloca a saúde mental de crianças e adolescentes no centro da carreira de pesquisador. No CISM, foca seu trabalho na genética da esquizofrenia nesse público a partir de análise em conjunto da amostra dos pacientes com a de seus pais.
Ao lembrar de sua caminhada desde a universidade, o jovem médico comenta que traçou um percurso diferente da maioria dos colegas de profissão, que, em geral, seguem para uma especialidade clínica, cirúrgica ou de outro tipo, usualmente fazem a formação acadêmica e, na maioria das vezes, acabam continuando com a atuação clínica.
“Desde a faculdade, tenho feito pesquisa”, destaca. “A partir de 2021, que foi quando entrei no doutorado, até hoje em dia eu sou exclusivamente dedicado à pesquisa”.
Quer saber mais sobre a trajetória de Farhat como pesquisador? Confira aqui.
1 de outubro de 2024
Mainary Nascimento, Institucional CISM