A publicação sintetiza uma revisão de estudos que avaliam a precisão de ferramentas de triagem e intervenções para transtornos psiquiátricos
Um artigo, publicado no periódico “Epilepsia”, revista oficial da International League Against Epilepsy (ILAE), compilou 47 recomendações para o diagnóstico e tratamento da ansiedade e depressão em crianças e adolescentes com epilepsia. O material é direcionado a todos os profissionais que têm contato com estes portadores da condição neurológica.
A International League Against Epilepsy reconhece que o reconhecimento dos sintomas ansiosos e depressivos, que são mais frequentes nas crianças com doenças crônicas, é dever de todos esses profissionais, desde o pediatra até o especialista.
O material é resultado do trabalho de três anos do grupo de pesquisadores que compõem a força-tarefa para Sintomas e Transtornos Psiquiátricos na Epilepsia Pediátrica, uma aliança entre a Comissão de Psiquiatria e de Epilepsia Pediátrica, da ILAE. A equipe é formada por cientistas brasileiros e estrangeiros, incluindo Guilherme Polanczyk, membro do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM).
As quase 50 orientações resultam de uma revisão sistemática de estudos, feita pelos pesquisadores, que avaliaram a precisão de ferramentas de triagem e intervenções para transtornos psiquiátricos. O artigo científico foi divulgado no dia 25 de setembro.
Entre as principais recomendações relacionadas ao diagnóstico, destaca-se a “triagem universal” para identificar sintomas de ansiedade e depressão, com atenção especial a crianças acima de 12 anos e acompanhamento mais próximo àquelas em risco aumentado para comportamentos auto-lesivos e relacionados ao suicídio.
Além disso, a aplicação de entrevistas clínicas para confirmar diagnósticos também é fortemente recomendada pelos pesquisadores que conduziram a revisão dos estudos.
Já no que diz respeito ao tratamento, o estudo recomenda uma abordagem personalizada aos pacientes, que considere um monitoramento ativo para casos leves e encaminhamentos para profissionais de saúde mental em casos moderados ou graves.
O estudo também aponta a importância de intervenções psicossociais adequadas à idade e ao desenvolvimento do paciente. Outra das 47 recomendações é a instrução dos cuidadores dos pacientes com epilepsia visando garantir a adesão deles ao tratamento.
“As recomendações refletem um consenso entre os especialistas, especialmente em áreas onde faltam evidências concretas”, explica a médica neurologista infantil Doutora Kette Valente, autora principal do artigo e líder da Comissão de Epilepsia Pediátrica e desta força-tarefa.
De acordo com a Dra. Kette, a ideia principal do estudo é criar recomendações para que todos os profissionais envolvidos nos cuidados com as crianças e adolescentes com epilepsia saibam como diagnosticar e graduar sintomas de ansiedade e depressão e como tratar os leves a moderados e direcionar os casos mais graves para os psiquiatras.
A especialista ainda detalha que a publicação também tem como objetivo melhorar os resultados do tratamento e reduzir a morbidade e a mortalidade entre jovens com epilepsia que enfrentam problemas de saúde mental. “Demonstra que a preocupação com a saúde mental é dever de todos os profissionais que cuidam das crianças e adolescentes”.
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A Liga
A International League Against Epilepsy (ILAE) é a Sociedade Mundial de Epilepsia. O órgão escolhe lideranças que criam forças de trabalho para desenvolver recomendações.
Doutora Kette é uma das líderes e a Chair da Comissão de Pediatria. A especialista encabeça este projeto em função de seu trabalho com comorbidades em epilepsia. Ela está formando um novo grupo de trabalho para dar início ao consenso/guideline de atualização do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). O pesquisador do CISM, Guilherme Polanczyk, foi convidado para representar a América Latina.
10 de outubro de 2024
Institucional CISM