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A carreira de pesquisador no Brasil: CISM amplia formação de jovens cientistas

A carreira de pesquisador no Brasil: CISM amplia formação de jovens cientistas 1014 720 INPD Cism

Os médicos Luisa Sugaya e Luis Farhat conquistam bolsa de pós-doutorado e se unem a projeto para descobrir a origem dos transtornos mentais

O Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) acaba de reforçar sua equipe de pesquisadores em “neurociência de precisão” com a chegada de dois jovens doutores. Os médicos Luisa Shiguemi Sugaya, de 38 anos, e Luis Farhat, de 29, conseguiram bolsa de pós-doutorado para seus projetos e, a partir deste semestre, darão um salto em suas carreiras de pesquisadores, avançando em ciência de impacto social.

A bolsa faz parte do “Programa de Apoio à Fixação de Jovens Doutores no Brasil”, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e tem duração de um ano, podendo ser prorrogada por mais um.

O ingresso dos doutores ao CISM condiz com alguns dos principais objetivos do centro: capacitar profissionais com alto potencial e oferecer oportunidades para pesquisas avançadas e para a difusão do conhecimento.

Os dois passaram por uma longa trajetória, desde a graduação, até a chegada ao pós-doutorado no CISM. Em comum, ambos têm a paixão pelas descobertas proporcionadas pelas pesquisas e a necessidade de criar “conhecimento” para a ciência e sociedade. Os dois também são médicos formados pela Universidade de São Paulo (USP).

Luisa, que tem especialização em psiquiatria da infância e adolescência, conta que sempre gostou de estudar e, já na graduação, começou a se interessar sobre como os fenômenos acontecem e como o conhecimento é produzido. Ao atender seus primeiros pacientes, logo surgiu também o desejo de cuidá-los da “melhor maneira possível”.

“Conforme tive oportunidades de me envolver com diferentes projetos de pesquisa, a possibilidade de gerar algum conhecimento relevante também me atraiu. Hoje, penso que a carreira de pesquisadora pode me permitir unir todas essas motivações: seguir estudando, ajudar os pacientes e contribuir de alguma forma para a sociedade”, comenta a psiquiatra.

O foco em saúde mental sempre fez parte da carreira da doutora Luisa. A jovem foi atraída à psiquiatria pela complexidade dos fatores relacionados à origem dos transtornos mentais, como a genética e causas sociais e culturais. Do ponto de vista científico e de saúde pública, a médica considera a pesquisa em saúde mental “bastante relevante e necessária”, visto os dados e o impacto da alta prevalência de transtornos no mundo.

“Acho que a possibilidade de me unir aos projetos do CISM representa uma ótima oportunidade de trabalhar em um projeto de relevância internacional e de estar em contato com excelentes pesquisadores”, destaca a psiquiatra. “Acredito que, com isso, poderei aprender novas metodologias científicas e estabelecer colaborações que podem, no futuro, contribuir de maneira significativa para minha carreira”, acrescenta a jovem cientista.

Uma bolsa que “faz toda a diferença”

Assim como sua colega, Luis tem a saúde mental de crianças e adolescentes no centro da carreira de pesquisador. Os dois chegam ao CISM depois de realizarem doutorado sanduíche – Luisa no The National Institute of Mental Health (NIMH), nos Estados Unidos, e seu parceiro de pesquisa na Universidade Yale, no mesmo país – e de receberem o incentivo e o apoio do professor Euripedes Constantino Miguel, diretor do CISM.

Luis conta que a bolsa de pós-doutorado faz toda a diferença para que ele consiga se desenvolver como pesquisador. “Sem essa possibilidade, eu provavelmente não teria renda nesse final de 2024. Então, essa bolsa estar chegando nesse momento faz toda a diferença para, justamente, permitir que eu consiga fazer esse estudo e outros que tenho feito no departamento [de psiquiatria da USP], e consiga, enfim, me desenvolver”, diz.

Igualmente importante ao recurso financeiro, o jovem considera a possibilidade de atuar ao lado dos cientistas do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental, que são líderes na área de saúde mental e realizam estudos de ponta a nível nacional e internacional. Luis se diz ansioso e celebra a chance de “aprender muito” com eles.

“O recurso financeiro a curto prazo para pagar as contas ajuda, mas a longo prazo, com certeza, acho que essa possibilidade de treinamento e networking vai ser a coisa mais importante desse auxílio com o qual eu fiquei super feliz”, celebra o médico. “Espero poder contribuir de forma mais contundente para os projetos e também aprender muito, principalmente, com o pessoal que tem liderado os estudos de genética”, enfatiza o doutor.

O projeto: investigando fatores de risco para transtornos

A dupla Luisa e Luis terá seus projetos de pesquisa inseridos no Módulo I – Neurociência de Precisão – do CISM, dentro do programa “Conexão Mentes do Futuro”, que iniciou um longo estudo de coorte de alto risco para transtornos mentais, acompanhando crianças e jovens de 2.511 famílias em 57 escolas de São Paulo e Porto Alegre.

O estudo criou um banco de dados com centenas de milhares de variáveis para análise e desenvolvimento de perguntas de pesquisa em saúde mental, incluindo genética e estrutura cerebral. O objetivo é identificar os fatores biológicos (genes) e sociais (ambiente) relacionados à origem dos transtornos mentais e variações no desenvolvimento cognitivo.

Pesquisas têm como foco a saúde mental de crianças (Foto: Imagem de Mohamed Hassan por Pixabay)

O projeto de Luisa soma-se ao programa para investigar a relação entre a irritabilidade na infância e adolescência e o ambiente familiar. A pesquisadora utilizará os dados já coletados no estudo de coorte para avaliar essa relação e fatores genéticos.

Já a pesquisa de Luis será focada na genética da esquizofrenia em crianças e adolescentes e se desenvolverá a partir do “sequenciamento em trio” – que é a análise em conjunto da amostra do paciente com a de seus pais. Assim como sua colega, o jovem médico também irá analisar a genética de algumas famílias que fazem parte do estudo.

“É uma abordagem complementar ao que o CISM está fazendo, com o intuito de descobrir um pouco mais sobre a genética específica desse transtorno psiquiátrico”, explica Luis sobre seu projeto. O programa “Conexão Mentes do Futuro” proporcionará insights mais profundos e, até então, inalcançáveis sobre as origens dos transtornos mentais.

22 de julho de 2024

Mainary Nascimento, institucional CISM