Por Victória Cirino
Após a realização de um estudo-piloto na cidade de Santo Antônio do Pinhal, Celina Andrade Pereira, psicóloga e aluna de mestrado da FMUSP, reuniu dados para dar início a um projeto que pretende estudar os efeitos de uma intervenção cujo objetivo é aprimorar os conhecimentos sobre saúde mental de professores do Ensino Fundamental I (antigo primário). O projeto, intitulado “Capacitação de Saúde Mental para Professores do Ensino Fundamental e seu Impacto no Desempenho Escolar”, foi executado por Pereira na cidade de Campos do Jordão em nove escolas da rede municipal, todas com um corpo docente com perfis semelhantes.
Após a aplicação de um questionário que pretendia reunir dados iniciais sobre o conhecimento que os professores possuíam sobre saúde mental, as nove instituições foram divididas randomicamente em três grupos, que passariam por intervenções distintas. Enquanto três delas receberam uma capacitação por tele-educação sobre o tema, outro grupo de escolas recebeu textos de apoio e a mídia de capacitação complementar, que era o mesmo material utilizado na capacitação por tele-educação, mas com a diferença que esse grupo não receberia os conteúdos de interação propostos para o primeio grupo. O terceiro grupo de escolas não recebeu nenhum material de capacitação, de tal forma que fosse possível comparar resultados a fim de observar o impacto da capacitação quando o questionário fosse reaplicado ao final do processo.
Diversos transtornos psiquiátricos começam a ser notados quando a criança entra na escola, o que justifica a preocupação com os conhecimentos que os professores possuem sobre saúde mental. “O objetivo da intervenção não era simplesmente aumentar o número de encaminhamentos das escolas para serviços de saúde mental, e sim fazer com que os encaminhamentos ficassem com melhor qualidade”, esclarece Celina Pereira. “Também nos preocupamos em passar orientações relativas ao manejo em sala de aula”, afirma a pesquisadora, dando o exemplo do Transtorno de Déficit de Atenção: “O professor não pode deixar alunos que suspeitam ter o problema perto da janela ou em um lugar em que ele vai se distrair. Basear a aula em estímulos visuais também ajuda, pois facilita a memorização”.
Outra característica singular do estudo é o uso de tele-educação com um dos grupos, tecnologia ainda pouco difundida nas pesquisas de capacitação à distância. “Tentamos, inclusive, desenvolver ferramentas que quebrassem a ‘frieza’ que o computador tem”, diz Celina. Guilherme Polanczyk, orientador desta tese de mestrado e diretor executivo do INPD, participou de uma webconferência com os professores, a fim de esclarecer dúvidas sobre o material. No encerramento da pesquisa, todos os professores foram convidados a participar de um evento na Secretaria de Saúde da cidade para aprenderem um pouco mais sobre como proceder caso tenham algum aluno que precise de uma atenção especial no campo da saúde mental. O estudo contou com a participação de mais de 100 professores.