O “Summit Saúde Mental Digital: Inovação e Validação” aconteceu nesta quinta-feira (28) e reuniu representantes do CISM, de startups, aceleradoras e incubadoras
A busca por conhecimento e inovação no tratamento de saúde mental tem ocupado cada vez mais espaço em diferentes meios. Apostando na tecnologia como aliada para o desenvolvimento de novas soluções, o Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) realizou, nesta quinta-feira (28), em parceria com a Soul Bee Good, um grande evento para debater o processo de criação, validação, regulação e fomento de ferramentas digitais voltadas à questão.
O “Summit Saúde Mental Digital: Inovação e Validação” contou com uma série de apresentações, exposições, palestras e debates ao longo de sete horas. Além de especialistas da maior excelência no assunto, o evento reuniu uma plateia de mais de uma centena de pessoas na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP).
O coordenador do CISM, Dr. Euripedes Constantino Miguel, declarou que o centro de pesquisa busca acreditar nessas soluções digitais. “Almejamos soluções escaláveis para atingir populações e melhorar a vida das pessoas a partir de intervenções eficazes”, disse. “Essa proposta de hoje junta nossos pesquisadores e aqueles que estão preocupados em levar essas soluções às populações em geral”, afirmou o professor sobre o evento.
O summit foi aberto pelo Professor Paulo Rossi Menezes, diretor científico do CISM. No primeiro painel do dia, ele falou sobre os desafios em saúde mental e a necessidade de inovar, destacando que ambos são uma prioridade na agenda do CISM. O psiquiatra ainda abordou a alta carga dos transtornos mentais no Brasil e a prevalência da depressão.
“A pandemia trouxe à tona a importância da saúde mental para todo mundo”, ressaltou o professor. “A gente tem, pelo menos, 75% das pessoas com depressão sem acesso a cuidados”, acrescentou, apresentando dados que revelam o aumento do transtorno no Brasil. Segundo os números mostrados, em 2013, 8% dos brasileiros tinham depressão, o dado aumentou para 11% em 2019 e chegou a 12% no ano passado.
A palestra do professor Paulo foi seguida pela apresentação do vice-coordenador do CISM, Luis Augusto Rohde, que abriu o segundo painel: “Validação Clínica em Saúde Mental Digital”, discutindo a importância desse processo. “A validação clínica é avaliar a segurança, efetividade e eficácia das soluções”, explicou o também médico psiquiatra.
Em sua fala, Dr. Rohde chamou atenção para o fato que muitos desenvolvedores de ferramentas digitais em saúde mental acabam pulando a etapa da validação clínica para a de usabilidade do produto, o que pode representar um risco. O pesquisador ainda alertou que os órgãos regulatórios estão começando a olhar, cada vez mais, para essa questão.
“O DNA do CISM é de sermos parte desse processo, entrando na etapa da validação clínica de saúde mental e ajudando os desenvolvedores com soluções inovadoras nessa área específica”, comentou o psiquiatra ao detalhar a atuação da equipe do “Módulo II” do centro, dedicada a aumentar a relevância da pesquisa científica como motor para novas ideias emergentes em saúde mental digital, inovação e empreendedorismo.
“Precisamos de soluções que possam ser flexíveis aos desenvolvedores para que eles possam colocar a validação clínica como parte da sua jornada”, apontou o pesquisador. “A solução é de parceria entre a academia, a indústria e os desenvolvedores”.
Apresentação de cases
Ainda durante o segundo painel do summit, ocorreu um “speed dating”, que reuniu desenvolvedores de startups para uma apresentação de quatro cases em validação.
O bloco foi aberto por Pedro Pan, do MindCheck, uma avaliação médica que avalia riscos, identifica problemas, previne complicações e promove o bem-estar. Na sequência, Immo Paul, da Thymia, apresentou a ferramenta que, alimentada por inteligência artificial, realiza avaliações de saúde mental para identificar doenças mentais e seus sintomas.
Em seguida, foi a vez de André Almeida, da My Journey, um aplicativo de saúde mental para pacientes e profissionais de saúde. Fechando o quarto case do “speed dating”, Diogo Lara, do Cíngulo, exibiu o app que trabalha o crescimento emocional dos usuários. Todas as soluções apresentadas foram comentadas por pesquisadores do CISM.
Acelerando inovações em saúde mental
A manhã da quinta-feira foi encerrada com uma mesa de debates que uniu quatro representantes de aceleradoras: Luciana Mattar, do InovaHC; Márcio Sanches, InovaEduK; Dr. Luiz Gustavo Vala Zoldan, EretzBio; e Philippe Magno, da Foz – Centro de Inovação em Saúde e Educação. A roda de conversa contou com a mediação de Luiz Roberto Carvalho, integrante do CISM e membro da venture de impacto em saúde mental Soul Bee Good.
Ao explicar a atuação do InovaHC, Luciana comentou que as empresas já perceberam o valor das inovações em saúde mental e da validação clínica, mas que precisam de recursos. A gerente de inovação destacou que, para essa função, é preciso contar com os especialistas em saúde mental, em referência aos pesquisadores do CISM.
Por sua vez, o CEO do InovaEduk, que integra o Grupo UniEduK, parceiro do CISM, enfatizou que seu programa contribui para a cultura de inovação e pesquisa no país.
Já Philippe, da FOZ, aproveitou sua fala para ressaltar a importância do evento focado nessa cultura da inovação. “Esse tipo de troca de experiência é muito válido. A gente está falando de um tema de alta relevância, que é a saúde mental”, lembrando que as soluções digitais construídas na área têm impacto muito relevante na vida das pessoas.
No mesmo compasso, Zoldan, da Eretz.bio, enfatizou a relevância de um evento para tratar desses temas, bem como a conexão com as academias, o que, em sua opinião, pode trazer harmonia e celeridade para o sistema de inovação. O médico psiquiatra também apresentou a atuação do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Ao comentar sobre a realização do summit, o moderador do painel, Luiz Roberto, apontou a “melhora da saúde pública no Brasil” como o objetivo principal, bem como a facilitação do acesso às novas intervenções que estão sendo desenvolvidas na área.
Software como medical device
A parte da tarde do evento foi aberta pelo quarto painel, que ofereceu uma mesa de debates para tratar dos desafios e oportunidades do desenvolvimento de softwares como dispositivos médicos. A roda foi moderada pelo psiquiatra e membro do CISM, Daniel Fatori.
O pesquisador comentou sobre o boom do uso da tecnologia na área da saúde em geral e, atualmente, muito mais forte em saúde mental. Para Daniel, esse crescimento resulta da evolução da tecnologia e da facilidade do desenvolvimento de novas ferramentas.
“Isso traz grandes desafios porque começamos a pensar na questão regulatória e como isso é fiscalizado. Logo, começam a surgir muitas perguntas”, afirmou. Os três integrantes da mesa de debates – Marcelo Antunes, da SQR Consulting; Lucas Selem, do Instituto Eldorado; e Francisco Iran Cartaxo, da Anvisa, ajudaram a esclarecer as dúvidas.
Como especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa, Iran explicou, entre outras coisas, quais regulamentações são aplicadas aos softwares medical devices e o que devem possuir as empresas que buscam essa regularização. O especialista ainda afirmou que esse mercado não é para “aventuras”, pois envolve a saúde das pessoas.
“É um mercado que tem seus benefícios para quem quer entrar nele, mas é um mercado sério, pois seu impacto é grande”, alertou o membro da Anvisa.
Ao final, Francisco Iran exibiu uma tirinha lúdica sobre o processo de regulação e encerrou sua fala com a seguinte dica: “A boa regulação usa as regras mais simples para atingir seus objetivos, com o menor custo através da correta motivação dos envolvidos”.
Na mesma linha, Lucas Selem, do Eldorado, falou que não basta o desenvolvedor ter uma ideia inovadora e simplesmente criar um software e entregar. “Não é assim que funciona”, ponderou sobre outras etapas necessárias, como a validação e regulação.
Marcelo Antunes, da SQR Consulting, respondeu a uma série de dúvidas que surgiram da plateia sobre como ocorre, na prática, o pedido de regulação de uma solução.
Investimentos e fomentos para inovar em saúde mental
O summit foi encerrado com mais uma rodada de debates que tratou sobre a importância e como obter investimentos e fomentos para as novas soluções digitais que surgem na área da saúde mental. A mesa de diálogo contou com a mediação do gerente de pesquisa do CISM e médico psiquiatra da infância e juventude, Dr. Arthur Caye.
Hugo Vivas, da Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS), foi um dos integrantes do painel. Ele abordou a necessidade de se buscar parceiros para diluir riscos e trazer clareza à jornada do desenvolvimento de uma nova solução. “Quando você envolve ciência e tecnologia, por si só, eu já vejo com um investimento de impacto”, enfatizou.
Enxergando o cenário da saúde mental com positividade, Felipe Albuquerque, da MOSO Venture Builder, falou que o investimento nesse setor é uma necessidade urgente. “O próximo grande motor de investimento na área da saúde é a saúde mental”, disse.
O terceiro e último membro da mesa foi Rafael Kenji, da FHE Ventures, que exaltou a união de diferentes atores nesse processo de criação, validação e fomento. “A Academia vindo para junto das startups cada vez mais e, ainda, junto a fundos de investimentos, a gente incentiva uma validação de forma mais segura e menos burocrática”, afirmou.
O moderador encerrou o último debate do dia destacando que o summit foi um sucesso. “É o começo de uma interação que a gente pretende desenvolver nos próximos anos entre diferentes players“, concluiu Arthur, psiquiatra e pesquisador do CISM.
Exposições
Além de mais de uma dezena de palestrantes que são referência quando o assunto é ciência, inovação, validação clínica, fomento e soluções de tecnologia, o summit contou com exposições. Foram exibidos pôsteres de startups que possuem inovações digitais em saúde mental em validação pelo CISM, bem como de aceleradoras e institutos.
O professor Euripedes, coordenador do CISM, enfatizou que o objetivo é fazer com que essas novas soluções tenham maior escala e impacto. Por isso, segundo ele, o centro de pesquisa se dedicou a ter um módulo dedicado a essa finalidade e a abraçar iniciativas.
Ao apontar que menos de 2% das soluções existentes são testadas e validadas, o professor afirmou que ficou claro que um dos papéis que o CISM poderia ter seria o de ajudar o campo de pesquisa a refletir sobre isso. “Quantas diferentes formações de players temos aqui presentes. Nosso papel envolve articular esses diferentes setores”, concluiu.
29 de novembro de 2024
Mainary Nascimento, Institucional CISM