A pesquisa foi desenvolvida por Maria Alice de Mathis, que, no CISM, atua no projeto CONEMO; a investigação científica foi publicada no periódico “Behavior Therapy”, da Elsevier
Um estudo científico recém-publicado na revista científica “Behavior Therapy”, da editora Elsevier, revela que a Terapia Cognitivo-Comportamental Baseada na Internet (iCBT) é eficaz e viável para o tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) na população brasileira e ainda promove melhoria significativa de sintomas depressivos.
A pesquisa “Aceitabilidade e viabilidade da terapia cognitivo-comportamental baseada na internet para transtorno obsessivo-compulsivo no Brasil” – em livre tradução para o português – foi conduzida pela psicóloga Maria Alice de Mathis, pós-doutora em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). O artigo com os resultados da investigação científica saiu em agosto – confira a íntegra neste link.
O estudo foi realizado com 35 adultos com TOC. O tratamento iCBT foi conduzido em 10 módulos e baseou-se na técnica de Exposição e Prevenção de Resposta (EPR). Esta é uma das principais estratégias da TCC usada especialmente no tratamento do TOC. Por meio dela, o paciente é gradualmente exposto a situações, objetos ou pensamentos que provocam ansiedade ou obsessões e, depois, é orientado com maneiras mais adequadas de lidar com as obsessões, ensinando o cérebro a tolerar o desconforto.
Do total de participantes, 30 (85,7%) concluíram o tratamento. Após 6 meses de acompanhamento, 60% deles responderam positivamente e 30% estavam em remissão, ou seja, não tinham mais sintomas significativos do transtorno. Ao final do tratamento, essas quantidades passaram para 54,5% e 27,3%, respectivamente. Além disso, os pesquisadores também notaram melhoria dos sintomas depressivos nos indivíduos.
Os participantes foram recrutados de março de 2022 a abril de 2023. “Nossos resultados fornecem evidências preliminares de que a iCBT é eficaz e viável de ser implementada em um país como o Brasil”, afirma a condutora do estudo. “A baixa taxa de desistência, a alta satisfação dos participantes e os ganhos terapêuticos mantidos até 6 meses após o tratamento reforçam o potencial da iCBT como uma opção viável e economicamente acessível para o Sistema Único de Saúde, SUS”, acrescenta a psicóloga.
Programa iCBT
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é uma doença psiquiátrica debilitante, com uma prevalência ao longo da vida de 1 a 3% da população geral. O início do TOC geralmente ocorre na infância ou na adolescência, tende a ser crônico se não tratado e está entre as principais causas de incapacidade relacionados a transtornos e ao uso de substâncias.
Os participantes avaliados fazem parte de um programa de iCBT desenvolvido na Suécia e aplicado em São Paulo, na clínica ambulatorial do Programa Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (PROTOC), do Instituto de Psiquiatria (IPq) da FMUSP.
Os pesquisadores responsáveis pelo programa adaptaram o manual de tratamento, chamado OCD-NET, e avaliaram sua implementação no Brasil. Para analisar os resultados dos sintomas do TOC, eles utilizaram a Escala Yale-Brown de Obsessões e Compulsões (Y-BOCS) – o instrumento mais usado no mundo para verificar a gravidade do transtorno.

Imagem: Mohamed Hassan/Pixabay
Para analisar o processo de implementação do programa e saber se ele tem viabilidade para ser amplamente aplicado e sustentado no “mundo real”, os cientistas utilizaram o modelo RE-AIM, estrutura que estuda como colocar em prática, de forma eficaz, intervenções ou políticas baseadas em evidências. Este protocolo avalia o alcance do projeto (quem é atingido), a eficácia/efetividade, a adoção, implementação e a manutenção.
A iCBT é uma aplicação online das técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental tradicional, a TCC. O recurso tem funcionado como uma alternativa eficaz para superar barreiras relacionadas ao estigma da busca pelo tratamento psiquiátrico, aos altos custos dos cuidados em saúde mental e à falta de terapeutas especializados neste tratamento.
Em muitos países em desenvolvimento, como o Brasil, os tratamentos especializados estão localizados nas grandes cidades, o que torna o acesso difícil para a população que vive em áreas remotas. Por isso, segundo a pesquisadora Maria Alice, há uma necessidade urgente de tratamentos eficazes e acessíveis para o TOC, como a iCBT.
“Os resultados deste estudo são promissores, demonstrando que o protocolo, originalmente desenvolvido na Suécia, pode ser eficaz e bem aceito em uma população culturalmente diversa, como a brasileira”, conclui a pesquisadora e psicóloga.
Entre outros, também participaram da investigação científica mais integrantes do PROTOC, como o professor Euripedes Constantino Miguel – também coordenador do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) -, e Roseli G. Shavitt.
Projeto CONEMO
Além de membro do PROTOC, a condutora do estudo, Maria Alice, é pesquisadora do CISM. No Centro de Pesquisa, também ligado ao IPq, a psicóloga atua no projeto “CONEMO”, app de celular que propõe sessões estruturadas de ativação comportamental – técnica derivada da TCC – para reduzir sintomas de depressão, ansiedade e insônia.
Atualmente, o “CONEMO” é oferecido, como piloto, a usuários de Unidades Básicas de Saúde (UBSS) de Indaiatuba, interior de São Paulo, e está em fase de expansão. Veja.
O artigo
Gostou do estudo? Quer saber mais? Confira o artigo na íntegra, clicando neste link.
14 de outubro de 2025
Institucional CISM