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Saiba mais sobre os 40 anos de história do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da FMUSP

Saiba mais sobre os 40 anos de história do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da FMUSP 150 150 admin

Por Victória Cirino
Imagem: Arthur Danila

Em 2013, o Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP completou 40 anos. Antes de 1973, não existia a pós-graduação tal como a conhecemos hoje em dia – os médicos, após completarem sua graduação, apresentavam uma tese, sob a orientação de um professor, e recebiam o título de doutores, obrigatório para aqueles que desejavam exercer a prática clínica.

“Bastava inscrever o tema da futura tese: não havia necessidade de cursas disciplinas para obtenção de créditos e nem era obrigatória a apresentação formal de um projeto de pesquisa”, relembra Zacharia Ali Ramadan, ex-coordenador do programa. “Havia uma ênfase na capacidade didática do aluno; atualmente, a ênfase maior é na pesquisa, com projetos apresentados previamente e submetidos a pareceristas, que geralmente são atrelados à linha de pesquisa do orientador”, explica. Além disso, segundo ele, a publicação em periódicos científicos passou a ser extremamente valorizada, ao passo que, antes da criação do programa, as teses deveriam ser originais e inéditas. Com a criação do Programa de Pós-Graduação, surgiu a possibilidade de os alunos obterem título de mestre, que não existia antes, mas ainda existem alunos que fazem o doutorado direto.

Em 1973, ainda não existia uma tradição de pesquisa muito grande na psiquiatria brasileira. “A tradição começou a vir com mais força na década de 1980”, afirma Beny Lafer, atual coordenador do programa. “Também houve nessa época o incentivo para diversos alunos fazerem pós-graduação no exterior”, explica Lafer, que complementa: “com a formação no exterior dessa massa crítica, começaram a se formar as linhas de pesquisa e começaram a aumentar o número de alunos”. De acordo com Ali Ramadan, a partir dos anos 1980, a psiquiatria norte-americana passou a exercer uma maior influência nas pesquisas brasileiras, que antes se orientavam principalmente pelas escolas europeias, sobretudo a afrancesa e a alemã.

A ênfase na importância da formação de pesquisadores começou a se intensificar a partir do momento em que os programas de pós-graduação brasileiros passaram a ser avaliados de forma sistemática e rigorosa pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, fundação do Ministério da Educação). “Isso fez com que a pós-graduação passasse a se direcionar mais para a formação de pesquisadores e docentes, principalmente nos últimos 15 anos, o que tem a ver com o movimento de internacionalização da pesquisa no Brasil”, esclarece Beny Lafer. Nos últimos dois triênios, o programa recebeu conceito 6 pela CAPES (nível internacional).

Ao longo dos 40 anos de existência do programa, a metodologia de pesquisa em psiquiatria se alterou significativamente. “Até a década de 1970, as pesquisas destacavam casos clínicos relevantes com histórias clínicas detalhadas para ilustração ou confirmação das hipóteses investigativas”, conta Zacharia Ali Ramadan, “a influência da psiquiatria norte-americana inseriu a estatística e métodos quantitativos de grande escala em populações numerosas de pacientes”. Essa influência fez com que a singularidade da doença mental perdesse lugar para a avaliação epidemiológica e para o desenvolvimento de escalas de sintomas mais científicas. Lafer, atual coordenador, afirma que, hoje em dia, diversas técnicas novas são empregadas no estudo das doenças psiquiátricas, tais como estudos genéticos, de neuroimagem e de neurociências. “O rigor metodológico antes não era muito grande, as hipóteses giravam em torno de teorias psicodinâmicas. Hoje, temos muitos outros recursos”, diz.

As áreas de estudo se expandiram consideravelmente ao longo dos 40 anos de história do programa. “Antigamente, a psiquiatria infantil ainda não havia se estruturado como área da psiquiatria. Hoje, temos uma linha de pesquisa no programa sobre o tema”, explica Lafer.

Quanto aos fármacos utilizados, Zacharia Ali Ramadan comenta que houve um aprimoramento de drogas que já existiam previamente. “Medicamentos tais como antidepressivos e ansiolíticos têm sido produzidos com o mesmo intuito de maior acuidade terapêutica e menos efeitos colaterais”, explica.

A Pós-Graduação em Psiquiatria da USP sempre esteve alinhada com o que havia de mais moderno em pesquisa psiquiátrica. Foi no Instituto de Psiquiatria do HC que se empregou pela primeira vez no Brasil a clorpromazina, o primeiro antipsicótico, então recém-descoberto na França. “O IPq sempre esteve perfeitamente sintonizado com as pesquisas realizadas em outros países. A psiquiatria brasileira sempre teve no seu diferencial o problema da carência crônica de recursos, mas, do ponto de vista científico, nada fica devendo ao resto do mundo”, afirma Zacharia Ali Ramadan.

Até o ano de 2012, o Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da FMUSP formou 205 mestres e 148 doutores. Com 34 orientadores credenciados, o programa conta com 10 linhas de pesquisa: Epidemiologia Psiquiátrica, Genética Psiquiátrica, Neurociências e Psicofisiologia, Neuroimagem em Psiquiatria, Psiquiatria Clínica e Psicopatologia, Psicofarmacologia Clínica e Outros Tratamentos Biológicos, Psicoterapia, Alcoolismo e Farmacodependências, Psiquiatria da Infância e Adolescência e Psiquiatria Geriátrica.

Atualmente, cerca de metade dos alunos do programa não são médicos: são formados em áreas como Biologia, Comunicação Social, Direito, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e Terapia Ocupacional, entre outras. Para saber mais, conheça o site http://www.psiquiatriafmusp.org.br/