O estudo, orientado pelo pesquisador do CISM Mauricio Scopel Hoffmann, investigou a influência do bem-estar e de psicopatologias para diferentes desfechos de vida
A jovem pesquisadora e estudante de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Gabriele dos Santos Jobim, venceu o prêmio de “Ellis Busnello” de melhor trabalho de psiquiatria clínica no XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria, realizado entre os dias 4 e 6 em Porto Alegre (RS). No estudo, a futura médica utilizou dados da Brazilian High Risk Cohort (BHRC) – Coorte Brasileira de Alto Risco para Transtornos Mentais – para investigar o bem-estar e a psicopatologia como preditores de desfechos adversos de vida.
A pesquisa conduzida por Gabriele teve orientação do professor Mauricio Scopel Hoffmann, membro do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM), chefe do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria.
Intitulado Bem-estar e psicopatologia como preditores de desfechos adversos de vida: estudo transversal em jovens de uma coorte brasileira de alto risco, o trabalho de Gabriele usou informações da gigantesca base de dados da Coorte. A BHRC é um longo estudo ligado ao CISM que investiga as origens genéticas e ambientais dos transtornos mentais. No CISM, a Coorte recebe o nome de “Conexão Mentes do Futuro” – saiba mais.
A investigação da aluna de Medicina descobriu que sintomas depressivos, coletados dos participantes da Coorte, em média aos 18 anos, estão associados a um maior risco de problemas ao longo da vida, como suicidalidade, autolesão e evasão escolar. Por outro lado, indicadores de bem-estar não tiveram relação com essas variáveis ao longo da vida.
“O trabalho da Gabriele demonstrou que embora correlacionados, depressão e bem-estar são dimensões independentes da mente humana e associadas a riscos diferentes durante o desenvolvimento”, explica o professor e psiquiatra Hoffmann. Um pôster com informações sobre a investigação da jovem ficou exposto no congresso.
Tempo de tela e TDAH
Assim como Gabriele, o jovem pesquisador Ricardo Kaciava Bombardelli, também estudante de Medicina da UFSM, usou dados da BHRC e teve sua pesquisa selecionada para apresentação oral e pôster no XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria. No evento, o aluno foi finalista entre os melhores trabalhos de psiquiatria da infância e adolescência.
Nomeado Tempo de tela e sintomas de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade: testando associações bidirecionais da infância à idade adulta em uma coorte brasileira, o estudo de Ricardo demonstrou que o aumento do tempo de tela, além do previsto, não se associou a um crescimento de sintomas de desatenção e hiperatividade ao longo de 8 anos, segundo dados coletados de participantes acompanhados pela Coorte.
O estudo científico foi inédito ao investigar essa relação entre o uso excessivo de telas – como televisão,, computador e videogames – durante a transição da infância para a vida adulta ou em contextos de países de baixa e média renda, como o Brasil.
“A pesquisa também mostrou que fatores como diagnóstico de transtorno mental materno é um confundidor importante nessa relação, estando associado a maior tempo de tela e sintomas de desatenção nos jovens”, detalha Hoffmann, orientador do trabalho.

No congresso, Gabriele e Ricardo expuseram pôsteres de suas pesquisas ao lado do orientador Mauricio Scopel Hoffmann (Foto: Arquivo pessoal)
Conhecimento compartilhado e futuros talentos
A Coorte Brasileira de Alto Risco é um dos mais importantes estudos científicos do mundo sobre o desenvolvimento do cérebro. O imenso banco de dados produzido pela BHRC pode ser acessado por cientistas brasileiros e estrangeiros, como Gabriele e Ricardo, possibilitando descobertas científicas de impacto mundial, capazes de mudar o campo da pesquisa e estabelecer novos parâmetros referenciais de neurodesenvolvimento.
O CISM, ao qual a Coorte é ligada, conta com um eixo dedicado à capacitação de novos talentos em pesquisa científica de ponta e excelência. O Centro de Pesquisa desenvolve programas de formação para jovens pesquisadores e também tem compromisso com a colaboração interdisciplinar e com a disseminação universal e aberta dos conhecimentos, o que impacta a atuação de pesquisadores como Gabriele e Ricardo.
XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria

O congresso aconteceu na cidade de Porto Alegre (Imagem: Reprodução/Internet)
O XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria teve como tema central “Ecopsiquiatria: Saúde Mental e Transformações no Ambiente”. Promovido pela Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul – (APRS), o evento reuniu psiquiatras, médicos residentes, estudantes universitários e profissionais da saúde mental de diferentes regiões do Brasil.
A edição contou com a presença de especialistas de reconhecimento internacional e palestrantes de excelência científica, como o vice-coordenador do CISM Luis Augusto Rohde, e a psiquiatra Alice Xavier, integrante dos projetos “CONEMO” e “e-Saúde Mental no SUS”, ambos do CISM. O evento representa uma oportunidade para o compartilhamento de conhecimento e inovação em psiquiatria.
Segundo os organizadores do congresso, a escolha do tema “Ecopsiquiatria” enfatiza a importância da saúde mental diante das mudanças climáticas e outras questões ambientais contemporâneas, como a exposição excessiva às telas e à internet. O objetivo foi aliar a reflexão sobre temas inovadores e urgentes e as atualizações da prática clínica.
23 de setembro de 2025
Institucional CISM


