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Jovem premiada pelo melhor trabalho de psiquiatria clínica no XVII Congresso Gaúcho usou dados da BHRC em sua pesquisa

Jovem premiada pelo melhor trabalho de psiquiatria clínica no XVII Congresso Gaúcho usou dados da BHRC em sua pesquisa 2560 1709 INPD Cism

O estudo, orientado pelo pesquisador do CISM Mauricio Scopel Hoffmann, investigou a influência do bem-estar e de psicopatologias para diferentes desfechos de vida

A jovem pesquisadora e estudante de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Gabriele dos Santos Jobim, venceu o prêmio de “Ellis Busnello” de melhor trabalho de psiquiatria clínica no XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria, realizado entre os dias 4 e 6 em Porto Alegre (RS). No estudo, a futura médica utilizou dados da Brazilian High Risk Cohort (BHRC) – Coorte Brasileira de Alto Risco para Transtornos Mentais – para investigar o bem-estar e a psicopatologia como preditores de desfechos adversos de vida.   

A pesquisa conduzida por Gabriele teve orientação do professor Mauricio Scopel Hoffmann, membro do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM), chefe do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria. 

Intitulado Bem-estar e psicopatologia como preditores de desfechos adversos de vida: estudo transversal em jovens de uma coorte brasileira de alto risco, o trabalho de Gabriele usou informações da gigantesca base de dados da Coorte. A BHRC é um longo estudo ligado ao CISM que investiga as origens genéticas e ambientais dos transtornos mentais. No CISM, a Coorte recebe o nome de “Conexão Mentes do Futuro”saiba mais

A investigação da aluna de Medicina descobriu que sintomas depressivos, coletados dos participantes da Coorte, em média aos 18 anos, estão associados a um maior risco de problemas ao longo da vida, como suicidalidade, autolesão e evasão escolar. Por outro lado, indicadores de bem-estar não tiveram relação com essas variáveis ao longo da vida. 

“O trabalho da Gabriele demonstrou que embora correlacionados, depressão e bem-estar são dimensões independentes da mente humana e associadas a riscos diferentes durante o desenvolvimento”, explica o professor e psiquiatra Hoffmann. Um pôster com informações sobre a investigação da jovem ficou exposto no congresso.

Tempo de tela e TDAH

Assim como Gabriele, o jovem pesquisador Ricardo Kaciava Bombardelli, também estudante de Medicina da UFSM, usou dados da BHRC e teve sua pesquisa selecionada para apresentação oral e pôster no XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria. No evento, o aluno foi finalista entre os melhores trabalhos de psiquiatria da infância e adolescência.   

Nomeado Tempo de tela e sintomas de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade: testando associações bidirecionais da infância à idade adulta em uma coorte brasileira, o estudo de Ricardo demonstrou que o aumento do tempo de tela, além do previsto, não se associou a um crescimento de sintomas de desatenção e hiperatividade ao longo de 8 anos, segundo dados coletados de participantes acompanhados pela Coorte. 

O estudo científico foi inédito ao investigar essa relação entre o uso excessivo de telas – como televisão,, computador e videogames – durante a transição da infância para a vida adulta ou em contextos de países de baixa e média renda, como o Brasil.

“A pesquisa também mostrou que fatores como diagnóstico de transtorno mental materno é um confundidor importante nessa relação, estando associado a maior tempo de tela e sintomas de desatenção nos jovens”, detalha Hoffmann, orientador do trabalho.

No congresso, Gabriele e Ricardo expuseram pôsteres de suas pesquisas ao lado do orientador Mauricio Scopel Hoffmann (Foto: Arquivo pessoal)

Conhecimento compartilhado e futuros talentos 

A Coorte Brasileira de Alto Risco é um dos mais importantes estudos científicos do mundo sobre o desenvolvimento do cérebro. O imenso banco de dados produzido pela BHRC pode ser acessado por cientistas brasileiros e estrangeiros, como Gabriele e Ricardo, possibilitando descobertas científicas de impacto mundial, capazes de mudar o campo da pesquisa e estabelecer novos parâmetros referenciais de neurodesenvolvimento. 

O CISM, ao qual a Coorte é ligada, conta com um eixo dedicado à capacitação de novos talentos em pesquisa científica de ponta e excelência. O Centro de Pesquisa desenvolve programas de formação para jovens pesquisadores e também tem compromisso com a colaboração interdisciplinar e com a disseminação universal e aberta dos conhecimentos, o que impacta a atuação de pesquisadores como Gabriele e Ricardo.

XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria

O congresso aconteceu na cidade de Porto Alegre (Imagem: Reprodução/Internet)

O XVII Congresso Gaúcho de Psiquiatria teve como tema central “Ecopsiquiatria: Saúde Mental e Transformações no Ambiente”. Promovido pela Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul – (APRS), o evento reuniu psiquiatras, médicos residentes, estudantes universitários e profissionais da saúde mental de diferentes regiões do Brasil.

A edição contou com a presença de especialistas de reconhecimento internacional e palestrantes de excelência científica, como o vice-coordenador do CISM Luis Augusto Rohde, e a psiquiatra Alice Xavier, integrante dos projetos “CONEMO” e “e-Saúde Mental no SUS”, ambos do CISM. O evento representa uma oportunidade para o compartilhamento de conhecimento e inovação em psiquiatria.

Segundo os organizadores do congresso, a escolha do tema “Ecopsiquiatria” enfatiza a importância da saúde mental diante das mudanças climáticas e outras questões ambientais contemporâneas, como a exposição excessiva às telas e à internet. O objetivo foi aliar a reflexão sobre temas inovadores e urgentes e as atualizações da prática clínica.

23 de setembro de 2025  

Institucional CISM