Experiências de violência física ou sexual mostraram uma correlação significativa com o aumento do hormônio cortisol durante a noite
Um estudo científico conduzido no Brasil descobriu que o histórico de traumas maternos durante a gestação pode influenciar a regulação do cortisol – conhecido como o “hormônio do estresse” – no período pós-natal, afetando tanto as mães quanto seus bebês. Os achados foram alcançados a partir da análise da saliva coletada nos participantes.
A investigação foi conduzida por cientistas do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM), por meio do programa “Primeiros Laços”, que acompanha jovens gestantes com o objetivo de fortalecer o vínculo materno e cuidar da saúde mental e emocional das mães de primeira viagem, além do desenvolvimento integral de seus filhos.
A pesquisa, que acaba de ser publicada no periódico internacional “American Journal of Human Biology”, envolveu 23 mães adolescentes, com idades entre 14 e 19 anos, participantes do programa. As jovens foram entrevistadas sobre experiências de violência interpessoal e outros traumas ao longo da vida e durante a gestação.
Doze meses após o parto, os pesquisadores coletaram amostras de saliva das mães e de 32 bebês, tanto ao acordar quanto antes de dormir, a fim de medir os níveis de cortisol.
Os resultados da pesquisa indicaram que uma maior exposição a traumas ao longo da vida estava associada a níveis mais elevados de cortisol noturno nas mães. Experiências de violência física ou sexual, por exemplo, mostraram uma correlação significativa com o aumento do “hormônio do estresse” à noite. Já os traumas vivenciados durante a gravidez foram associados a níveis mais altos de cortisol, no período noturno, nos bebês.
“A pesquisa enfatiza a importância de considerar o impacto de experiências traumáticas na saúde de mães adolescentes e seus bebês, apontando para a necessidade de intervenções que abordem os efeitos intergeracionais do trauma”, destaca Verônica Euclydes, uma das autoras do estudo e pós-doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP), sob supervisão da psiquiatra Helena Brentani (USP).
Em relação aos níveis matinais de cortisol, não foram encontradas associações significativas entre os traumas, tanto nas mães quanto em seus filhos.
Os resultados do estudo preliminar estão alinhados com modelos de “programação fetal”, que propõem que o ambiente uterino pode moldar o desenvolvimento futuro da criança. Os pesquisadores destacam que estudos adicionais poderão explorar possíveis mecanismos psicobiológicos (neurociência comportamental) no período pós-natal.
Entre os autores da investigação estão integrantes do CISM: o coordenador Euripedes Constantino Miguel, o também psiquiatra Guilherme Polanczyk e a professora Lislaine Fracolli, da Escola de Enfermagem da USP e pesquisadora do “Primeiros Laços”.
Quer saber mais? Acesse o artigo no “American Journal of Human Biology”.
27 de março de 2025
Institucional CISM