Os cientistas que conduziram a pesquisa recomendam abordagens preventivas e terapêuticas; os resultados foram publicados em um periódico da Oxford Academic
Uma pesquisa científica realizada com 1.616 adolescentes e jovens brasileiros revelou uma associação significativa entre vício em jogos e experiências psicóticas, sugerindo que ambas as condições podem compartilhar mecanismos neurobiológicos e comportamentais. O estudo teve seus resultados publicados em um artigo no periódico internacional “Schizophrenia Bulletin Open”, da Oxford Academic, na edição de janeiro.
Os pesquisadores utilizaram como amostra participantes do Brazilian High Risk Cohort (BHRC), um grande estudo ligado ao Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM), que conta com um banco de dados robusto de adolescentes acompanhados por mais de uma década em uma investigação sobre a origem dos transtornos mentais.
Os jovens avaliados na pesquisa foram classificados em três grupos: aqueles que não possuem condição de jogo problemático (PG), os que possuem e os com dependência de jogos (GA), segundo definições da Escala de Vício em Jogos (Game Addiction Scale). Do total, 9,5% apresentavam PG, enquanto 2,7% preenchiam critérios para GA.
“Jogo problemático” ou patológico é o termo utilizado para se referir a um comportamento de ciclo vicioso em jogos ou persistência de jogar, mesmo quando isso causa problemas e consequências negativas ou quando a pessoa deseja parar.
Além disso, 28% da amostra pesquisada possuía algum diagnóstico psiquiátrico conforme o IV Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).
Os pesquisadores identificaram que os jovens em PG apontaram para níveis significativamente mais altos de experiências psicóticas, mesmo quando observadas variáveis sociodemográficas e a presença de outros transtornos mentais. A análise estatística reforçou a correlação entre as duas condições (coeficiente beta de 0,96: IC 95% = 0,17–1,75, P = 0,017).
“O estudo alerta que o vício em jogos eletrônicos pode ser um fator de risco para sintomas psiquiátricos. Embora não possamos estabelecer propriamente uma relação de causalidade, pois se trata de um estudo transversal, identificamos uma associação robusta entre adicção ao gaming e experiências psicóticas, em uma grande amostra de mais de 1.600 jovens de São Paulo e Porto Alegre. Por isso, entendemos que abordagens preventivas e terapêuticas devem ser direcionadas a jovens vulneráveis”, destaca André Fernandes, pesquisador principal do estudo e doutorando em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo o cientista, mais pesquisas poderão aprofundar o entendimento sobre os mecanismos que ligam o jogo problemático às experiências psicóticas.
Gostou do estudo? Clique aqui para conferir o material na íntegra. O artigo tem entre seus autores o Professor Euripedes Miguel, coordenador do CISM; Luis Augusto Rohde, vice-coordenador; além de outros membros do Centro – Ary Gadelha (supervisor do estudo), Pedro Mario Pan e Giovanni Salum.
28 de maio de 2025
Institucional CISM