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Confira texto de Ricardo Pietrobon sobre congressos médicos brasileiros

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“Congressos médicos têm foco errado”

Pesquisador afirma que eventos dão atenção exagerada à elucubração teórica e diz que falta foco na prática clínica, roubando tempo e energia de médicos e profissionais da Saúde

Texto: Ricardo Pietrobon
Edição: Luiz Sérgio Dibe

Nós médicos somos profissionais estranhos. Consumimos quantias maciças de informação científica, apesar de não termos – em nossa imensa maioria – formação suficiente para avaliar se essa informação é de boa qualidade. Mas esse problema são seria tão grave se ele não se propagasse através dos congressos médicos. Neles, somos inundados com informações científicas as quais frequentemente não entendemos, enquanto informações mais relevantes, sobre como tudo aquilo poderia ser aplicado em nossa prática diária, são deixadas de lado ou resumidas ao tempo mínimo de nossas reflexões e atividades.

Essa estrutura com um foco errado, obviamente, tem suas consequências negativas. Tempo precioso é gasto com assuntos irrelevantes aos profissionais que trabalham com Medicina. Esse emprego de tempo seria melhor aproveitado com apreensão de explicações detalhadas a respeito das condutas terapêuticas padrão e sobre como adaptá-las, frente às inúmeras exceções vistas no dia-a-dia da prática clínica.

É interessante que essa visão mais pragmática sobre a conduta terapêutica já e praxe em países como os Estados Unidos. A recente criação do Patient-Centered Outcomes Research Institute (www.pcori.org), cuja finalidade é financiar pesquisas centradas em pacientes, tem seu foco inteiramente voltado para a aplicabilidade da pesquisa na atenção às pessoas em tratamento e nos profissionais de saúde que tratam esses pacientes. Ao mesmo tempo, novos grupos de pesquisa criados na Europa e América do Norte são inteiramente focados na criação e consolidação de diretrizes clínicas.

Por que, então, muitos dos congressos na área da saúde não estão alinhados com essa direção mais pragmática? Tal decisão, obviamente, não implica na exclusão de eventos científicos que mantenham enfoque nos aspectos mais teóricos da saúde. Contudo, se o objetivo principal é ter profissionais mais habilitados a tratar dos pacientes, os congressos devem ser necessariamente alinhados com esse pragmatismo.

Um exemplo recente e bem sucedido dessa linha são o Congresso e o Curso de Clínica Psiquiátrica (www.clinicapsiquiatrica.org.br), promovidos anualmente pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Iniciados em 2011, os eventos são inteiramente focados no conceito de “como eu trato”, provendo sugestões inteiramente práticas a psiquiatras, psicólogos e outros profissionais para atuação diante de doenças psiquiátricas no dia a dia. O modelo servirá de exemplo para outros eventos, mesmo em outras áreas da Medicina, com este tipo de foco?