Neuropsiquiatria, TDAH, TEA, neurodesenvolvimento, depressão, suicidalidade, emoções, inovação e tecnologia foram alguns dos temas abordados pelos pesquisadores
Quase 20 pesquisadores ligados ao Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) marcaram presença no Brain Congress 2025, realizado entre os dias 18 e 21 de junho em Fortaleza, no Ceará. Ao longo de diversos simpósios, palestras, aulas e apresentações, os convidados pautaram debates sobre os avanços da pesquisa científica e da prática clínica em saúde mental, destacando-se como grandes referências nos temas.
O congresso, que anualmente reúne um público de mais de 5 mil pessoas, conecta as mais recentes descobertas das neurociências a uma abordagem multidisciplinar, com foco no tratamento de doenças mentais e neurológicas. O evento reúne renomados especialistas brasileiros e estrangeiros com o objetivo de capacitar os participantes a oferecerem diagnósticos e tratamentos mais precisos e eficazes para seus pacientes.
No primeiro dia do congresso (18), o vice-coordenador do CISM, o médico psiquiatra e professor Luis Augusto Rohde, palestrou sobre neurodiversidade e psiquiatria. Ainda na quarta-feira, o também psiquiatra e pesquisador Jair Mari, coordenador do Eixo de Recursos Humanos do CISM, participou de duas palestras que abordaram os avanços de estudos ligados ao cérebro, neurociência, emoções e fatores comportamentais e neurais.
As emoções humanas também foram assunto da apresentação da pesquisadora Luisa Shiguemi Sugaya, ainda na abertura do evento. No CISM, a psiquiatra conduz estudo com dados do projeto “Conexão Mentes do Futuro” – ou Coorte Brasileira de Alto Risco (BHRC) -, que investiga as origens genéticas e ambientais dos transtornos mentais. Luisa falou sobre a corregulação da interação entre o afeto negativo e problemas emocionais.
A quarta-feira teve, ainda, uma apresentação do psiquiatra da infância e adolescência Guilherme Polanczyk, que integra o mesmo grupo de estudo de Luisa. No congresso, o pesquisador compartilhou com o público aspectos da neuropsiquiatria do desenvolvimento relacionados aos caminhos para a depressão e o suicídio em jovens.
Também à frente de estudos que investigam a origem dos transtornos mentais, o psiquiatra Giovanni Abrahão Salum Jr. falou sobre neurociência, com foco em psicose e na construção da realidade. Ao lado dele, estava outro integrante do CISM, o pesquisador Ary Gadelha de Alencar Araripe Neto. Ambos ainda tiveram apresentações individuais sobre os desafios no diagnóstico da pessoa autista e a nova era da Inteligência Artificial (IA).

A pesquisadora Luisa Sugaya participou de três sessões no Brain (Foto: Arquivo pessoal)
O segundo dia
Já na quinta-feira (19), apresentou-se, como convidado especial em três diferentes sessões, o Professor Euripedes Constantino Miguel, coordenador do CISM. Na “Arena Científica”, o médico psiquiatra reuniu uma plateia interessada em aprender sobre o medo em transtornos mentais. O pesquisador focou em ansiedade, mecanismos neurobiológicos e oportunidades de intervenção. À frente do CISM, o Professor Euripedes conduz projetos que têm como objetivo desenvolver e implementar, na sociedade, intervenções eficazes para o tratamento de diferentes transtornos.
Como um dos especialista de excelência em Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), de renome internacional, o Professor Euripedes também participou de um encontro com outros especialistas sobre o transtorno e, ainda, como professor, ofereceu mentoria relacionada à gestão do tempo e à busca pelo equilíbrio entre estudo e lazer.

Prof. Euripedes (quarto à direita) foi convidado especial de uma mesa redonda com experts em TOC (Foto: Arquivo pessoal)
Ainda no segundo dia do Brain, palestrou o pesquisador Rodolfo Furlan Damiano sobre o uso do medicamento “Cetamina” na prevenção do suicídio. O psiquiatra apresentou o estudo que vem conduzindo no CISM em busca de investigar, de maneira pragmática e controlada, a eficácia de três intervenções para a prevenção de comportamentos suicidas em indivíduos considerados de alto risco, a partir do uso deste tipo de fármaco.
“A suicidalidade não deve ser entendida apenas como um comportamento só”, alertou o Dr. Rodolfo na palestra. “As abordagens, as intervenções, são absolutamente diferentes para cada espectro do que a gente está chamando de suicidalidade. Então, a gente precisa compreender esse espectro para que consigamos fazer targets específicos para isso e também para, criticamente, olharmos a literatura e saber o que ela está dizendo em relação, por exemplo, à diminuição do risco de suicídio no geral”, concluiu.
A quinta-feira também contou com novas participações do Dr. Jair Mari, que abordou pesquisas sobre esquizofrenia resistente ao tratamento e o impacto da tecnologia digital no cérebro, e do Dr. Polanczyk, que debateu condições distintas e compartilhadas do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
No mesmo dia, também ocorreram as primeiras palestras do médico psiquiatra Pedro Mario Pan. Discussão em alta na sociedade, o Dr. Pedro tratou da relação complexa entre a solidão, redes sociais e a depressão na adolescência. Além disso, em uma segunda sessão, debateu sobre o dilema das combinações antipsicóticas para o tratamento mental.
Encerrando a quinta-feira, o psiquiatra Andre Russowsky Brunoni explanou sobre a neuromodulação para doenças mentais além da depressão. Ainda durante a tarde, Ary Gadelha e Luisa Sugaya também tiveram novas apresentações no evento.

O psiquiatra Rodolfo Damiano participou de seis atividades e ministrou quatro aulas (Foto: Arquivo pessoal)
Terceiro dia
A manhã de sexta-feira (20) foi aberta por uma palestra da psicóloga e professora da Universidade de São Paulo (USP) Renatha El Rafihi-Ferreira. A pesquisadora apresentou dados de um estudo sobre a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I), detalhando novas técnicas de abordagem psicológica para o cuidado do sono.
“Diferente da TCC, que é focada no sintoma, a ACT [Terapia de Aceitação e Compromisso] foca no processo de inflexibilidade psicológica, essa rigidez comportamental que interage com outros fatores da vida e que podem afetar o sintoma”, pontuou a professora na mesa redonda sobre o papel da psicologia no tratamento da insônia. No CISM, Renata integra o projeto “CONEMO”, que desenvolve um app de celular, baseado em terapias, para auxiliar no tratamento de sintomas de insônia, ansiedade e depressão.

No CISM, a professora Renatha atua nas pesquisas do projeto “CONEMO” (Foto: Arquivo pessoal)
Sexta-feira também foi o dia de estreia dos pesquisadores Marcos Leite Santoro e Rodrigo Affonseca Bressan na edição de 2025 do Brain Congress. O primeiro, que no CISM integra a equipe do projeto “Conexão Mentes do Futuro”, fez uma exposição sobre o potencial preditivo e dificuldades do uso de “escores poligêncios” em populações miscigenadas. Essas “medidas” quantificam a predisposição genética de uma pessoa desenvolver uma doença, considerando múltiplas variantes genéticas em todo o genoma.
Já o Dr. Bressan, pesquisador do programa “Saúde Mental nas Escolas”, desenvolvido em parceria com o CISM, aproveitou seu momento de fala para tratar de “Salas de aula saudáveis: o professor como agente de prevenção em saúde mental”. Ao lado do Dr. Ary Gadelha, Bressan ainda debateu, em outra sessão, “Tik Tok x Ciência”.
Novamente, outros pesquisadores que participaram de palestras nos dias anteriores do evento, subiram ao palco para oferecer novas contribuições. Entre eles, Luisa Sugaya, que se propôs a apontar elementos sobre a crise global na saúde mental de crianças e adolescentes, e o Dr. Salum, que abordou a IA e a subjetividade robotizada – os chatbots para tratamentos em saúde mental. O Dr. Salum ainda participou de uma sessão sobre como o professor pode transformar o desenvolvimento emocional de seus alunos.
Último dia
O dia de encerramento do Brain Congress contou com a participação de outros membros do CISM. A pesquisadora Natalia Becker apresentou dados sobre o impacto das visitas domiciliares de enfermeiras nos sintomas emocionais de adolescentes gestantes em situação de vulnerabilidade social. A prática fundamenta o programa “Primeiros Laços”, desenvolvido pelo CISM nas cidades de Jaguariúna e Indaiatuba, interior de São Paulo.
A pesquisadora participou de uma mesa redonda sobre parentalidade na era digital e também teve o estudo com as participantes do “Primeiros Laços” apresentado em pôster. Natalia foi uma das vencedoras do prêmio “Jovem Pesquisador”, oferecido pelo congresso.
No sábado, o psiquiatra da infância e adolescência e gerente de pesquisa do CISM, Arthur Caye, participou do simpósio “O uso de ‘machine learning’ em depressão, TDAH e transtorno bipolar: avanços e desafios”, ao lado de seu aluno de mestrado Igor Duarte, que criou um modelo promissor para melhorar a identificação de biomarcadores de TDAH. O Dr. Arthur foi o moderador do debate, que, além de Igor, contou com outros dois palestrantes.
“Priorizar a relevância clínica é muito mais importante do que a sofisticação do modelo” foi uma das principais mensagens deixadas na fala de Igor, que discutiu fatores críticos no desenvolvimento de modelos em saúde mental com ênfase no TDAH.

Arthur Caye (com o microfone) e Igor Duarte participam do simpósio “Machine learning em depressão, TDAH e transtorno bipolar” (Foto: Arquivo pessoal)
Durante a tarde, a “Arena Científica” foi palco de uma ampla discussão sobre tecnologia, pesquisa e inovação. Além de Caye, o Dr. Rohde e o diretor científico do CISM, Paulo Rossi Menezes, participaram de uma sessão intitulada “Da inovação à implementação: percorrendo a última milha nos cuidados em saúde mental”. O moderador do debate foi o doutor em neurologia e professor João José Freitas de Carvalho, do Ceará.
O Dr. Caye explicou o que é a ciência da implementação e qual a sua relevância para a saúde mental, apontando que apenas 50% das descobertas científicas em Medicina chegam um dia à prática clínica nos consultórios médicos. O CISM possui este desafio como um dos alvos principais de sua missão. Os projetos do Centro de Pesquisa têm como meta final a transferência de sua tecnologia e conhecimento para a sociedade, visando inserir as intervenções no “mundo real” dos serviços públicos de saúde do país.
No debate, os professores Rohde e Paulo se dividiram em abordar os desafios do processo de avaliação e certificação de ferramentas digitais em saúde mental e a transferência de tecnologias para a sociedade. O Professor Paulo apresentou experiências de implementação de ferramentas digitais em unidades básicas de saúde. Atualmente, o CISM conta com alguns projetos já nesta fase, como o “Primeiros Laços” e o “CONEMO”.
Ainda no último dia do congresso, outros pesquisadores do CISM, que também tiveram participações nos dias anteriores, realizaram novas apresentações no evento.

O debate sobre “Ciência da Implementação” contou com três participantes do CISM (Foto: Arquivo pessoal)
Jovens pesquisadores, futuros talentos
Além dos especialistas de referência do CISM, outros jovens pesquisadores, que integram as equipes do Centro ou realizam estudos utilizando seus dados, participaram do Congresso e tiveram a oportunidade de apresentar suas pesquisas. Confira nesta matéria.
O evento
O Brain Congress – Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções – é um evento científico de referência voltado a profissionais que buscam integrar os avanços mais recentes da pesquisa científica à prática clínica, promovendo atualização e excelência.
Conecta as mais recentes descobertas das neurociências a uma abordagem multidisciplinar, com foco no tratamento de doenças mentais e neurológicas. Com este tipo de modelo, o congresso atrai um público diversificado – desde participantes que visam aprimorar a prática clínica até aqueles interessados em projeção acadêmica.
Grande parte do público clínico é composto por médicos e profissionais de áreas da saúde mental. O compromisso é reforçar a integração entre a pesquisa e a prática.

O Brain Congress 2025 foi realizado na cidade de Fortaleza, capital do Ceará (Foto: Reprodução/Site Brain Congress)
25 de junho de 2025
Mainary Nascimento, Institucional CISM