A conclusão é de uma pesquisa científica conduzida com 2.240 crianças e adolescentes brasileiros durante três anos; os resultados foram publicados em periódico internacional
Um estudo investigou como e se o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o turno escolar impactam no desempenho acadêmico de crianças e adolescentes brasileiros. A investigação revelou que estudantes do Ensino Fundamental com o transtorno apresentam desempenho acadêmico mais prejudicado ao longo do tempo, em qualquer período de aula – manhã ou tarde.
Publicado no periódico internacional European Child & Adolescent Psychiatry, o estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo – todas parceiras do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) -, além de cientistas vinculados a instituições internacionais.
Os pesquisadores analisaram dados de 2.240 crianças e adolescentes, entre 6 e 14 anos, participantes da Brazilian High Risk Cohort (BHRC) – Coorte Brasileira de Alto Risco para Condições Mentais. Também chamado “Conexão Mentes do Futuro”, o projeto é ligado ao CISM e, há 15 anos, investiga a origem genética e ambiental dos transtornos mentais.
Do total de participantes, 11,2% foram diagnosticados com TDAH. Um pouco mais da metade das 2.240 crianças e adolescentes (50,2%) estudava no turno da manhã. Os cientistas avaliaram o desempenho desses jovens a partir de testes padronizados de leitura e escrita, além de relatórios dos pais sobre o desenvolvimento nas matérias e a ocorrência de eventos escolares negativos, como reprovação, suspensão ou abandono das aulas.
Os achados
Em uma primeira análise, os pesquisadores perceberam que casos de TDAH em alunos que estudavam no turno matutino estavam associados a uma menor habilidade em leitura e escrita e maior chance de eventos adversos. Três anos depois, porém, o diagnóstico do transtorno apontou pior desempenho acadêmico e maior frequência de eventos escolares negativos, independentemente do período de aulas que o estudante frequentava.
Uma diferença entre crianças e adolescentes com e sem TDAH foi observada apenas no turno da tarde: estudantes com transtorno tiveram desempenho pior em leitura e escrita quando comparados a colegas sem TDAH que estudavam no mesmo período. Já em relação ao turno da manhã, a performance foi consistentemente baixa tanto para os jovens com quanto sem o transtorno.
Os resultados sugerem que outros fatores do ambiente matutino, como menor qualidade do sono, podem influenciar no desempenho dos alunos de forma geral.
Políticas públicas
Diante dos resultados, os cientistas acreditam que seja insuficiente a realocação de alunos com TDAH para a tarde, visto que o turno da manhã pode penalizar todos os estudantes. Em vez disso, eles recomendam melhorias no ambiente escolar matutino e intervenções específicas para alunos com o transtorno, independente do período da aula.
“Este trabalho reforça que o TDAH pode comprometer o desempenho escolar ao longo do tempo e que estratégias de apoio devem olhar para a dinâmica escolar completa, incluindo não apenas o período das aulas, mas a qualidade do sono e intervenções terapêuticas centradas, em vez de apenas a adoção de soluções pontuais”, enfatiza o pesquisador do CISM e professor UFSM, Mauricio Scopel Hoffmann, supervisor do estudo.
O artigo
O estudo foi conduzido por Ighor Miron Porto, do curso de medicina da Universidade Federal de Santa Maria. Além de Hoffmann, o artigo cita outros membros do CISM entre os autores: o coordenador e o vice-coordenador do Centro, Euripedes Constantino Miguel e Luis Augusto Rohde, respectivamente; o pesquisador Ary Gadelha; e os psiquiatras Pedro Mario Pan e Giovanni Abrahão Salum, integrantes da BHRC.
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8 de dezembro de 2025
Institucional CISM


