A estimativa é fruto de uma pesquisa científica realizada com 1.158 cuidadores de jovens, entre 14 e 23 anos, com problemas de saúde mental
Um estudo conduzido com 1.158 cuidadores de jovens com transtornos mentais – sendo 94,2% mães – revelou que a assistência tem um custo indireto médio correspondente a metade de sua renda mensal – e isso em todos os níveis socioeconômicos dos participantes. Os resultados foram publicados no periódico internacional Value in Health.
Os custos incluem o impacto na produtividade desses responsáveis, as horas dedicadas ao cuidado do filho, os efeitos em sua saúde e as despesas do próprio bolso, como, por exemplo, gastos com transporte para acessar os serviços de saúde.
Os pesquisadores analisaram o impacto econômico indireto enfrentado pelos cuidadores dos jovens (de 14 a 23 anos). Os participantes integram a Brazilian High Risk Cohort (BHRC) – Coorte Brasileira de Alto Risco para Condições Mentais. Também chamado “Conexão Mentes do Futuro”, o projeto é ligado ao Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) e investiga a origem dos transtornos mentais.
A pesquisa revelou que quase 40% das famílias (458) relataram impactos econômicos indiretos atribuídos à situação de saúde mental do jovem que cuidam. Foram avaliados gastos pessoais e de uso de serviços de saúde pelos pais/cuidadores – sem incluir os custos dos serviços utilizados pelos filhos -, além de perdas de produtividade e tarefas domésticas empenhados pelos responsáveis em um período de 6 meses.
A condutora do estudo, Carolina Ziebold, doutora em psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca que um dos elementos inéditos da pesquisa é a mensuração do custo do cuidado associado a transtornos mentais comuns, como ansiedade, depressão e transtornos do comportamento.
“A pouca literatura existente costuma concentrar-se no Transtorno do Espectro Autista [TEA] ou em outras condições de maior complexidade e impacto para as famílias. Nosso estudo demonstra que, mesmo em casos de transtornos mais frequentes, os cuidadores – especialmente as mães – enfrentam um impacto no desenvolvimento ocupacional, na própria saúde e no próprio bolso equivalente à metade dos seus salários”, aponta.
Fatores de influência
Segundo os pesquisadores, diferentes fatores influenciam a chance de o cuidador ser economicamente afetado e o valor deste impacto. Casos em que o jovem possui diagnóstico de doenças externalizantes (como comportamento disruptivo), comorbidades, maior gravidade do transtorno e uso de serviços de saúde, a probabilidade de o responsável ser afetado é maior – ainda mais quando o cuidador é do sexo feminino.
Quando as condições do jovem são internalizantes – como depressão ou ansiedade – e há o uso de serviços de saúde, o impacto financeiro do cuidador é ainda mais elevado.
Para Ziebold, a pesquisa destaca um aspecto frequentemente negligenciado: o ônus financeiro significativo que recai sobre as famílias de jovens com transtornos mentais. “Os custos vão muito além dos cuidados médicos diretos, atingindo a capacidade de trabalho, o equilíbrio doméstico e as finanças pessoais, independentemente da classe social”, destaca a pesquisadora responsável pelo estudo.
Diante dos resultados, os pesquisadores indicam a necessidade de políticas que ofereçam apoio financeiro ou logístico aos cuidadores, especialmente mulheres, que são mais afetadas. Algumas das sugestões são a criação de programas de cuidado que considerem de forma abrangente as famílias como um todo e estratégias que promovam o alívio do peso econômico e melhorem o bem-estar dos cuidadores e dos jovens.
Artigo
Conduzido por Carolina, o estudo tem parceria com uma equipe de pesquisadores do Care Policy and Evaluation Centre, da London School of Economics and Political Science, do Reino Unido. O artigo, com os resultados da pesquisa, cita alguns membros do CISM entre os autores: o coordenador e o vice-coordenador do Centro, Euripedes Constantino Miguel e Luis Augusto Rohde, respectivamente; e os também psiquiatras Pedro Mario Pan, Giovanni Abrahão Salum e Rodrigo A Bressan, integrantes da BHRC.
Gostou da pesquisa? Quer saber mais? Acesse o artigo completo clicando AQUI.
8 de dezembro de 2025
Institucional CISM


