Marcos Croci e Marcelo Brañas participaram de um simpósio que abordou o papel da adversidade na infância em casos de autolesão não suicida; uma pesquisadora dos Estados Unidos ministrou palestra também apresentando dados da Brazilian High Risk Cohort
Dois simpósios realizados no congresso da International Society for the Study of Personality Disorders (ISSPD) contaram com apresentações de estudos que utilizam dados da Brazilian High Risk Cohort (BHRC) – Coorte Brasileira de Alto Risco para Transtornos Mentais, projeto ligado ao Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM). O evento aconteceu entre os dias 9 e 11 deste mês, em Boston, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores do CISM, Marcos Croci e Marcelo Brañas, participaram do simpósio “Do Risco Populacional às Trajetórias Clínicas: Preditores e Padrões de Autolesão em Jovens”. A mesa foi organizada por Croci, dirigida pelo pesquisador Michael Kaess, da Universidade de Bern, na Suíça, e teve a participação de Brañas, como palestrante, e de Shirley Yen, da Universidade de Harvard (Estados Unidos), como discutidora.
No simpósio, Dr. Brañas revisou aplicações de machine learning em pesquisas de autolesão não suicida. O psiquiatra também apresentou uma nova abordagem para identificar subgrupos de jovens que apresentam este comportamento, revelando padrões comportamentais complexos a fim de identificar trajetórias longitudinais distintas e estratégias para intervenção precoce.

Marcelo Brañas participou de três simpósios no congresso internacional (Foto: Arquivo pessoal)
Na mesma palestra, Dr. Croci apresentou dados da BHRC, com foco na prevalência de autolesão em jovens. Ele também falou sobre um estudo de machine learning que avalia o impacto dos maus-tratos e do bullying na infância e adolescência no desenvolvimento das autolesões não suicidas. A BHRC é um dos estudos mais importantes do mundo sobre neurodesenvolvimento. Também chamado “Conexão Mentes do Futuro”, o projeto acompanha, há 15 anos, 2.500 jovens nas cidades de São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS).
“Os dados da BHRC nos permitiram investigar, com um nível de detalhe excepcional, as trajetórias complexas que levam à autolesão. Ter a oportunidade de debater esses achados diretamente com referências mundiais do tema na Europa e nos EUA, como Michael Kaess, Corinna Reichl e Shirley Yen, demonstra a relevância global e a atualidade das investigações que estamos desenvolvendo no Brasil”, enfatiza o psiquiatra e pesquisador Dr. Croci.
Além de integrantes do CISM e pesquisadores da BHRC, os psiquiatras Croci e Brañas também atuam como cocoordenadores do Ambulatório para o Desenvolvimento dos Relacionamentos e das Emoções (ADRE), ligado ao Instituto de Psiquiatria (IPq), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Ambos os psiquiatras ainda participaram como membros da comissão científica do congresso internacional e também palestraram em outros dois simpósios do evento.

Marcos Croci apresentou estudo com dados coletados na BHRC (Foto: Arquivo pessoal)
Rede afetiva e psicopatologia
Os dados coletados pela Coorte possibilitam inúmeros estudos sobre as origens neurobiológicas e ambientais dos transtornos mentais não apenas por pesquisadores brasileiros, mas também de diversas partes do mundo. Um desses casos é o da pesquisadora Haya Fatimah, que participou do ISSPD apresentando uma pesquisa com dados da BHRC.
A professora, que atualmente é assistente de psicologia na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, ministrou uma palestra intitulada “Associações entre propriedades dinâmicas da rede afetiva e psicopatologia: Resultados do Brazilian High Risk Cohort Study”.
No estudo, a pesquisadora explorou as interações dinâmicas entre estados psicológicos, analisando dados de 93 jovens participantes da BHRC. A investigação elucidou associações contemporâneas e temporais entre variáveis afetivas, incluindo tristeza, ansiedade, irritabilidade e sensação de inatividade e cansaço. Os resultados encontrados na pesquisa e apresentados no congresso revelam fortes conexões mútuas entre essas variáveis.

Haya Fatimah apresenta pesquisa sobre rede afetiva e psicopatologia (Foto: Arquivo pessoal)
O congresso da ISSPD
Com o tema “Unificando a Teoria da Personalidade e seus Tratamentos: Interligando Corações, Mentes e Métodos” a edição de 2025 do ISSPD reuniu participantes do mundo inteiro, como pesquisadores, clínicos, líderes de serviços, formuladores de políticas públicas, estudantes, acadêmicos e usuários de serviços, incluindo famílias e cuidadores.
O evento é um ponto de encontro para uma revisão de alto rendimento dos últimos avanços, desenvolvimentos terapêuticos e experiências clínicas e pessoais para transtornos de personalidade. O congresso contou com mais de 280 palestras realizadas por cerca de 180 palestrantes, rodadas de debates científicos e apresentação de pôsteres. Realizado a cada dois anos, a próxima edição do “ISSPD Congress” será em 2027, em Bern, na Suíça.
1 de dezembro de 2025
Institucional CISM


