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Parte II: “IV Encontro Anual” do CISM celebra avanços e novidades de 11 projetos de impacto em saúde mental

Parte II: “IV Encontro Anual” do CISM celebra avanços e novidades de 11 projetos de impacto em saúde mental 1280 589 INPD Cism

No total, 21 pesquisadores compartilharam os resultados e os próximos passos dos estudos em desenvolvimento no Centro de Pesquisa

Investigação sobre as origens dos transtornos mentais; intervenções tecnológicas; cuidado de jovens gestantes e seus bebês, abordagens de prevenção ao suicídio; capacitação de educadores: os resultados de 11 projetos de impacto em saúde mental foram apresentados no IV Encontro Anual do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM)”, realizado ao longo desta quinta-feira (30), na cidade de São Paulo. 

O evento, que aconteceu no anfiteatro do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), tem o objetivo de conectar as equipes a fim de possibilitar uma vasta troca de ideias e experiências. A abertura do Encontro foi marcada por fortes momentos de inspiração e motivação compartilhados pelos dirigentes do Centro de Pesquisa – confira aqui.

Após as falas dos psiquiatras que lideram o CISM, 21 pesquisadores que atuam à frente de 11 projetos de impacto em saúde mental, apresentaram os resultados, desafios e próximos passos de seus programas e estudos. As exibições foram divididas em três blocos, um para cada módulo que compõe o Centro de Pesquisa e Inovação: I – Neurociência de Precisão; II – Saúde Mental Digital; III – Ciência de Implementação.  

Desvendando o cérebro e as origens dos transtornos

As apresentações do Módulo I, também chamado “Conexão Mentes do Futuro”, foram abertas pela pesquisadora Carina de Giusti, que passou uma atualização sobre as coletas realizadas na quarta “onda” do longo estudo. A Brazilian High Risk Cohort (BHRC) Coorte Brasileira de Alto Risco para Transtornos Mentais – é um dos mais importantes estudos do mundo sobre o desenvolvimento do cérebro e a mais completa Coorte do tipo, no Sul global. 

O projeto acompanha 2.500 adolescentes há uma década e meia nas cidades de São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS), juntamente com seus pais e filhos nascidos anos depois – saiba mais. O ponto de destaque da apresentação de Carina foi a impressionante taxa de retenção dos participantes do estudo: 83,5%.

83,5%: Carina de Giusti celebra taxa de retenção de participantes da BHRC (Foto: Divulgação/CISM)

O dado foi celebrado por um dos líderes da Coorte, o pesquisador Giovanni Abrahão Salum: “Esta é a primeira vez que conseguimos aumentar em uma onda a retenção da onda anterior. Sem retenção não tem projeto. Isso é de muito valor”, enfatizou Salum. 

Participando do IV Encontro Anual do CISM” por videoconferência, o pesquisador ainda destacou alguns dados ligados à Coorte que demonstram o interesse, cada vez maior, de mais pesquisadores em usar os dados do estudo e produzir conhecimento: 150 papers; 13 mestrados; 65 doutorados; 11 iniciações científicas e 12 pós-doutorados. 

“Esta é a medida de um time extremamente dedicado para o crescimento da ciência. A gente continua apostando em inovação, em estar na fronteira do conhecimento. Estamos cada vez mais profissionais na forma de fazer ciência”, celebrou o professor Salum. 

Após a exibição de Carina, foi a vez da pesquisadora Luísa Sugaya apresentar dados da terceira geração da Coorte. Na sequência, a professora Sintia Belangero, coordenadora da área de Genética e do Biorrepositório da BHRC, falou sobre as futuras descobertas relacionadas ao genoma e as novas modalidades estudadas na Coorte. 

A professora destacou a riqueza de patrimônio – genético e de dados – que existe dentro da Coorte. “A BHRC coloca o Brasil no mapa mundial da psiquiatria e da neurociência. Não apenas pelas suas tecnologias, mas pela representatividade e diversidade que ela traz à ciência, tornando-se um patrimônio nacional e internacional”

Sintia também abordou o desafio global da diversidade genética, tendo em vista a sub-representação de populações não europeias nos estudos científicos. “A gente está aqui para melhorar isso”, afirmou. “A Coorte está fazendo 15 anos. Eu sou muito grata a todas as pessoas que vieram antes da gente. E muita gente trabalha para essa Coorte acontecer”. 

MoBILab: quebrando paradigmas 

Também integrante do Módulo I do CISM, a pesquisadora Laila de Souza anunciou a chegada de uma importante novidade ao projeto: a coleta multimodal, o chamado MoBILab – um super computador no qual todas as modalidades de coleta estão conectadas e são feitas ao mesmo tempo. “O MoBILab é um novo paradigma que veio para revolucionar o estudo do cérebro em humanos”, explicou a pesquisadora que atua em Porto Alegre. 

As apresentações do Módulo I foram encerradas com uma palavra de agradecimento do co-investigador principal da BHRC, Pedro Mario Pan, e com a exibição de três trabalhos de destaque de alunos de pós-graduação que utilizaram dados da Coorte. 

A primeira aluna a compartilhar a pesquisa foi Julia Arendt, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Orientada pelo professor Marcos Leite Santoro, Julia publicou um estudo na revista Brazilian Journal of Psychiatric (BJP) que analisou variantes genéticas, do tipo Copy Number Variations (CNVs), de 2.250 jovens e de seus pais para avaliar o impacto genético no desenvolvimento de transtornos mentais. Clique AQUI para saber mais.

O aluno de doutorada Caio Petrus publicou artigo científico com dados da Coorte (Foto: Divulgação/CISM)

A segunda pesquisa mostrada foi a de Caio Petrus, pesquisador e aluno de doutorado de Arthur Caye, gerente de pesquisa do CISM. O jovem doutorando publicou um paper, no International Review of Psychiatry, revelando que jovens brasileiros integrantes da comunidade LGBTQIAPN+ apresentam maiores taxas de uso de substâncias psicoativas, bem como iniciam o consumo mais cedo em comparação com cisgêneros heterossexuais. Confira mais neste link

O terceiro estudo exibido foi o de Vanessa Kiyomi Ota, aluna da Unifesp. Com publicação no periódico Frontiers, ela avaliou o impacto das adversidades da vida e da expressão gênica nos sintomas psiquiátricos em crianças e adolescentes – veja

Soluções digitais

O bloco seguinte do Encontro foi focado em intervenções digitais que demonstram a força da união entre ciência e tecnologia. Diretamente dos Estados Unidos, via videoconferência, o pesquisador André Miguel passou as atualizações do projeto “Tratamento Remoto com Incentivos à Sobriedade (TRIS)”, que desenvolve e avalia um aplicativo de manejo de contingências para o tratamento do transtorno por uso de álcool.  

André foi seguido pelos alunos do Centro Universitário Max Planck (UniMAX), Nestor Sousa Junior e Giovana Coutinho Santos, que falaram sobre o estudo “Neurobots”, ensaio clínico de treinamento de mindfulness para a redução do estresse no ambiente de trabalho. O projeto é coordenado pela professora Márcia Acevedo Coutinho – saiba mais aqui.

“Que possamos ver formas de como o ser humano pode fazer a diferença na vida do outro. Que o estresse não atrapalhe. E, para além disso, o cuidado, o olhar para si mesmo vale muito a pena. Cuidemos melhor de nós mesmos para podermos cuidar dos outros”, disse Nestor, que estuda Medicina na UniMAX, umas das instituições parceiras do CISM.

O Encontro possibilitou a reunião de integrantes de diferentes equipes do CISM (Foto: Arquivo pessoal)

A terceira inovação tecnológica que vem sendo desenvolvida, no CISM, foi apresentada pelos estudantes do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), Letícia Basseto e Lucas Alvarenga. O “Ego2Save” é plataforma realiza escaneamento facial para testar a acurácia de um app que busca antever riscos de autolesão e tentativas de suicídio – conheça aqui

O bloco foi encerrado com uma apresentação que contagiou a plateia: o “Exergame”, jogo de realidade virtual testado para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em adolescentes, em parceria com a startup Move Sapiens. Os pesquisadores Luana Saunders e Pietro Merola fizeram uma demonstração prática do game. O estudo acontece em São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS) – confira.

“A gente não quer só resolver problemas,  a gente quer o sucesso do paciente nessa jornada”, afirmou Pietro, doutor em Ciências do Exercício e do Esporte pela USP. 

Ciência de implementação

A última etapa do IV Encontro Anual do CISM” deu espaço àqueles projetos focados na transferência de conhecimento e tecnologia para a sociedade, que visam a implementação de intervenções eficazes em saúde mental no “mundo real”.

Membros do Núcleo Gestor assistem à apresentação da psicóloga do Beatriz Atti (Foto: Divulgação/CISM)

O primeiro projeto apresentado foi o “CONEMO” (CONtrole EMOcional), app que auxilia no tratamento de sintomas de ansiedade, depressão e insônia a partir da aplicação de técnicas de ativação comportamental. Os dados do estudo foram compartilhados pelas pesquisadoras Beatriz Atti e Alice Xavier. Saiba mais no Instagram: @conemo.app 

“Quem anda sozinho vai mais rápido, mas quem anda acompanhado vai mais longe” – foi com essa fala de agradecimento e reconhecimento à equipe, que Alice encerrou a apresentação sobre o “CONEMO”. O projeto acontece em duas UBSs de Indaiatuba (SP) e, em breve, deve ser expandido para mais unidades e também ao município de Jaguariúna. 

Na sequência, a professora da USP e psicóloga Renatha El Rafihi-Ferreira falou sobre o estudo iTCC – Terapias Cognitivo-Comportamentais pela Internet. A professora exibiu, ainda, uma pesquisa recém-publicada na revista “Behavior Therapy”, que revela que este tipo de terapia é eficaz e viável para o tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) na população brasileira. O artigo é de Maria Alice de Mathis – confira mais

A professora foi seguida pelo pesquisador Rodolfo Furlan Damiano, que abordou um novo projeto do CISM: o SAVE Study”, que estuda diferentes abordagens de prevenção ao suicídio nas unidades de emergência do município de Indaiatuba – conheça aqui

O psiquiatra Rodolfo Damiano apresentou o mais novo projeto do CISM: o SAVE Study (Foto: Divulgação/CISM)

A quarta apresentação do bloco foi conduzida por Vinícius Nagy, gestor do “Primeiros Laços”. O pesquisador apresentou dados atualizados sobre o programa de acompanhamento de jovens gestantes e seus bebês. O serviço, que se baseia em visitas domiciliares de enfermeiras, já impacta a vida de mães de primeira viagem em Indaiatuba e, muito recentemente, também passou a ser oferecido nas UBSs de Jaguariúna – leia

Durante sua fala, Vinícius destacou um artigo publicado no periódico internacional Frontiers in Psychiatry, que detalha o protocolo de implementação do programa – confira

Clarice Madruga e Henrique Akiba estiveram à frente da penúltima apresentação do dia: o programa “Saúde Mental nas Escolas”, conduzido em parceria com o Instituto Ame Sua Mente. O projeto proporciona o letramento em saúde mental de professores para o manejo das questões de saúde mental em sala de aula. Entre outros, os objetivos são combater o estigma e prevenir e atenuar o impacto dos transtornos mentais nas escolas. 

O IV Encontro Anual do CISM” foi encerrado pelo gerente de pesquisa, Arthur Caye, que apresentou um novo projeto em desenvolvimento: o “e-Saúde Mental no SUS”. A plataforma, com recursos de tecnologia, visa potencializar os cuidados de saúde mental no SUS, auxiliando usuários, profissionais da Atenção Primária e gestores – conheça.

“A gente está sempre querendo abrir coisas novas para fazer. Coisas que vão, de fato, mudar a vida das pessoas”, declarou o Dr. Arthur encerrando a apresentação.

Arthur Caye, gerente de pesquisa do CISM, fala sobre a missão de impacto na sociedade (Foto: Divulgação/CISM)

Equipes transversais 

Ainda antes das apresentações dos pesquisadores, a gestora de projetos do CISM, Juliana Juk, falou sobre a gestão do Centro e as equipes transversais que atuam nas frentes administrativa, de comunicação e de ética nas pesquisas feitas com humanos. 

Ricardo Góes detalhou dados relacionados à consolidação dos processos éticos nas pesquisas do CISM entre 2023 e 2025. Ele destacou que, neste ano de 2025, houve o fortalecimento do monitoramento de risco ético e o acompanhamento dos estudos em andamento, além da qualificação dos processos de emenda, relatório e notificação. 

A coordenadora de comunicação Mainary Nascimento e a designer Rafaela Cavalcanti apresentaram a atuação desenvolvida em diferentes frentes, como assessoria de imprensa, comunicação interna e redes sociais. O destaque foi para a divulgação de informação científica de interesse para o público leigo, com mais de 300 notícias publicadas na imprensa, entre janeiro e setembro deste ano, sobre os projetos e estudos do CISM.

3 de novembro de 2025 

Mainary Nascimento, Institucional CISM