Quatro cientistas da Coorte Brasileira de Alto Risco para Condições Mentais participaram de diferentes simpósios no evento ocorrido em Berlim, na Alemanha 

A 15ª conferência da Associação Internacional de Intervenção Precoce e Prevenção em Saúde Mental (IEPA) contou com a participação de quatro cientistas do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM). Os pesquisadores Rodrigo Bressan e Pedro Pan e os alunos de mestrado e doutorado Letícia Müller Haas e Francisco da Silva Júnior, respectivamente, palestraram sobre as perspectivas de prevenção dos transtornos mentais no Brasil. O evento aconteceu entre os dias 8 e 10 de setembro, na Alemanha. 

Os professores Bressan e Pedro atuam no estudo Brazilian High Risk Cohort (BHRC) – Coorte Brasileira de Alto Risco para Condições Mentais. A Coorte acompanha, há 15 anos, 2.500 jovens em uma investigação científica sobre as origens genéticas e ambientais dos transtornos mentais. Ligado ao CISM, o projeto, também chamado “Conexão Mentes do Futuro”, é um dos mais importantes estudos do mundo sobre o desenvolvimento do cérebro.  

No congresso, os cientistas participaram de diferentes simpósios abordando o cenário da prevenção e intervenção precoce em saúde mental no Brasil. Orientados pelo professor Pedro Pan, Letícia e Francisco apresentaram as pesquisas que vêm desenvolvendo na pós-graduação na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), utilizando dados da Coorte. A Unifesp é uma das seis universidades parceiras do CISM.    

Letícia finalizará o mestrado em dezembro. Ao longo dos últimos 2 anos, ela analisa dados da Coorte para desenvolver um modelo de estadiamento clínico transdiagnóstico – abordagem que classifica a evolução de um transtorno em fases (chamadas de estágios) e, em vez de focar em um diagnóstico específico, busca tratar fatores comuns que atravessam diferentes diagnósticos. 

A pesquisadora investiga a viabilidade da aplicação deste modelo de estadiamento clínico transdiagnóstico em amostras comunitárias não clínicas, para a futura orientação de intervenções preventivas em saúde mental a nível comunitário. 

Segundo explica a jovem cientista, os resultados do estudo mostram que é possível aplicar critérios para identificar sinais precoces de transtornos mentais em jovens. Ela conta que esses estágios iniciais já mostram associação com desfechos negativos, como impacto dos sintomas no dia a dia e mais uso de serviços emergenciais em saúde mental. “Se conseguirmos identificar esses momentos iniciais com precisão, estaremos melhor equipados para intervir precocemente de modo a prevenir o desenvolvimento ou agravamento dos transtornos mentais”, explica a pesquisadora.

Para a estudante de mestrado, o congresso ofereceu a oportunidade de conhecer os pesquisadores que trabalham nessa área e criar novas conexões. No evento, a jovem encontrou o Professor Patrick McGorry, da Universidade de Melbourne, um dos principais pesquisadores a fundar a área da intervenção precoce em psicose nos anos 90, na Austrália. 

“Participar do IEPA foi uma experiência única que com certeza marcará minha carreira. É muito inspirador ver as pesquisas pioneiras que estão sendo feitas e a comunidade de pessoas dedicadas a melhorar a saúde mental dos jovens por meio da prevenção e intervenção precoce. Sou muito grata ao CISM por propiciar esses encontros”, celebra Letícia.

Letícia e Pedro Pan também estiveram presentes na pré-conferência do evento, o encontro do International Working Group on Transdiagnostic Clinical Staging. 

Já Francisco apresentou uma pesquisa revelando como marcadores socioeconômicos, em vez do estado de saúde mental anterior dos indivíduos, podem ser fatores de risco para alto sofrimento em relação à pandemia de Covid-19. 

Além de Letícia e Francisco, outra pesquisadora do CISM e da BHRC, Carina de Giusti, teve sua pesquisa exibida, por meio de um pôster, no congresso. Sob orientação do professor Pedro Pan, o estudo desenvolvido no mestrado de Carina foi intitulado “Qual é o nível de concordância entre pais e adolescentes? Confiabilidade cruzada de informantes sobre álcool, tabaco, uso de drogas e tempo excessivo de tela na adolescência”.

Outras apresentações 

No congresso, o professor Bressan participou de um simpósio sobre o progresso no desenvolvimento de serviços de intervenção precoce para o primeiro episódio psicótico na Europa e América do Sul. A sessão destacou os esforços colaborativos entre pesquisadores, clínicos e pacientes para aprimorar a prestação de serviços e resultados.

Ao lado de outros palestrantes, o pesquisador do CISM e da BHRC discutiu os desafios e estratégias para a implementação de modelos de intervenção precoce na Irlanda, Reino Unido, Dinamarca e Brasil, compartilhando lições aprendidas para incentivar a adoção de abordagens inclusivas e eficazes para o cuidado em saúde mental.

O professor Bressan ainda ministrou a palestra “Serviços de saúde mental para jovens: o momento certo para um alcance global na América Latina”. O debate abordou a rara busca de adolescentes brasileiros por atendimento primário para saúde mental. O pesquisador mostrou que os sistemas atuais não atendem às necessidades de desenvolvimento desse grupo, carecendo de abordagens focadas em intervenção precoce.

Na apresentação, Bressan destacou que a assistência à saúde mental centrada nos jovens deve se integrar a esforços sociais mais amplos, incluindo programas de educação e assistência social, como ocorre em iniciativas brasileiras.

Já Pedro Pan presidiu um simpósio sobre abordagens inovadoras para a identificação de riscos específicos e transdiagnósticos em saúde mental juvenil, apresentando insights baseados em dados de diferentes coortes globais. 

O simpósio apresentou estudos que visam identificar preditores, fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento de transtornos mentais. Análises avançadas, como modelagem cerebral normativa, estruturas de exame de neuroimagem e novas ferramentas clínicas, foram abordadas como meio de promoção para a intervenção precoce em saúde mental juvenil, em busca de um atendimento escalável e equitativo. 

O pesquisador também palestrou sobre “Transições longitudinais de condições mentais comuns do final da infância ao início da idade adulta na Coorte Brasileira de Alto Risco”. Foram apresentados dados de evolução dos participantes da BHRC relacionados a ansiedade, depressão e ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).  

Na apresentação, o cientista apontou que os resultados coletados enfatizam a adolescência como um período complexo de risco e resiliência, no qual episódios transitórios de psicopatologia são comuns, destacando a natureza dinâmica da saúde mental nesta fase da vida. 

A conferência 

Realizada em Berlim, a 15ª edição da conferência da IEPA reuniu mais de 900 pessoas. O evento ofereceu uma programação diversificada, com apresentações que abordaram novas perspectivas e oportunidades de intercâmbio. O tema deste ano – “Quebrando Fronteiras” – enfatizou a ampliação da intervenção precoce em todas as categorias e abordagens diagnósticas, bem como a importância da interdisciplinaridade. Como quebrar fronteiras geográficas e levar o modelo de intervenção precoce para o Brasil também foi um ponto comum na apresentação dos quatro pesquisadores do CISM.

O evento reuniu cientistas, clínicos, pacientes e profissionais de saúde mental regionais e internacionais, proporcionando uma grande plataforma para abordagens inovadoras, pesquisas de ponta e discussões potentes para troca de conhecimento e avanços na área. 

A próxima edição da conferência será em Auckland, Nova Zelândia, em 2027. Clique no link para saber mais sobre o evento: https://iepa15conference.org/frontend/index.php

7 de outubro de 2025

Institucional CISM