Por Victória Cirino
Imagem: João Miguel Neves Filho
Organizada pelos professores Euripedes Constantino Miguel e Bacy Fleitlich-Bilyk, do INPD, a Reunião Geral do Instituto de Psiquiatria dessa semana (25/04) contou com a presença da professora Ruth Feldman, da Universidade Yale (EUA) e da Universidade Bar-Ilan (Israel).
A pesquisadora ministrou em inglês a palestra “Bio-behavioral Syncrony and the Neurobiology of Human Social Affiliation: Implications for Clinical Practice”, que apresentava dados interessantes sobre apego infantil e níveis de oxitocina nos pais. Segundo Feldman, o apego é uma característica biológica dos animais que lhes garante sobrevivência e adaptação, uma vez que promove acesso a fenótipos sociais essenciais para a convivência com outros membros da espécie. Os mamíferos realizam esse processo por meio da interação mãe-bebê. No caso dos humanos, o apego está relacionado a questões como convívio, capacidade de empatia, cognição social e formação simbólica.
Os estudos de coorte de Feldman buscaram compreender qual é a base biológica da capacidade de cooperação humana, procurando estabelecer as relações entre os componentes genéticos, epigenéticos, hormonais, comportamentais e cerebrais. A ênfase da palestra foi discutir a importância da prevenção dos transtornos psiquiátricos nos primeiros meses de vida. De acordo com a professora, entre o primeiro trimestre de gestação e o primeiro ano de vida o cérebro humano possui uma plasticidade única, o que faz com que o repertório de comportamento materno no pós-parto seja essencial para o desenvolvimento da criança.
Esse repertório deve incluir trocas afetuosas que estabeleçam um vínculo com a criança, tal como a proximidade física, pois a fisiologia infantil é regulada por esse mecanismo. Além disso, olhar o rosto e o corpo da criança, conversar com ela com um tipo de entonação de voz característico (o chamado “manhês”) e expressar o afeto de maneira positiva são comportamento associados a um bom prognóstico do desenvolvimento do indivíduo.
Os recém-nascidos tem uma sensibilidade a contingências sociais que foi estabelecida ao longo do processo evolutivo da espécie humana. Isso quer dizer que eles são programados para serem sensíveis às consequências ambientais de suas ações (por exemplo: um sorriso provoca uma reação afetuosa positiva da mãe). Feldman ressaltou que é importante que as mães adaptem seus padrões de estimulação de acordo com as respostas do bebê, o que faz com que ambos desenvolvam uma sincronia nas interações que será importante para o desenvolvimento da criança, uma vez que o cérebro infantil se desenvolve por meio da estimulação.
A oxitocina, substância ligada ao sistema imunológico, é regulada por meio das experiências sociais precoces das pessoas. Produzida pelo hipotálamo, a oxitocina está vinculada à interação social. Seus receptores estão espalhados pelo corpo e pelo cérebro. Estudos de coorte conduzidos por Feldman mostram que os pais cuidadores têm níveis de oxitocina semelhantes às mães que são transmitidos aos filhos, influenciando seu desenvolvimento.
A pesquisadora explica que não existe ainda uma clareza a respeito do mecanismo pelo qual o nível de oxitocina de crianças aumenta quando os pais também possuem níveis aumentados durante e interação: as hipóteses passam por feromônios até pelo padrão comportamental. Foi observado que a administração de oxitocina em pais aumenta a prontidão psicológica e comportamento da criança para a interação social.
A regulação emocional é importante para a prevenção de doenças psiquiátricas, uma vez que mães com depressão aumentam a chance de a criança obter um diagnóstico psiquiátrico ao longo da vida. Esse fator interage com outros aspectos da criança, inclusive com os fatores de predisposição genética, mas é uma importante constatação para psiquiatras que trabalham com a prevenção.